segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
domingo, 30 de dezembro de 2012
O requisito de imparcialidade
Praticamente todas as teorias morais importantes incluem a ideia de imparcialidade. A ideia básica consiste em considerar os interesses de cada indivíduo como igualmente importantes; do ponto de vista moral, não há pessoas privilegiadas. Portanto, cada um de nós tem de reconhecer que o bem-estar dos outros é tão importante como o nosso. Ao mesmo tempo, a exigência de imparcialidade elimina qualquer esquema que trate os membros de determinados grupos como de certa forma inferiores, como os negros, os judeus e outros foram por vezes tratados.
O requisito de imparcialidade está estritamente ligado à ideia de que os juízos morais têm de ser apoiados em boas razões. Considere-se a posição de um racista branco, por exemplo, que defende ser correto que os empregos melhores sejam reservados para as pessoas brancas. Ele sente-se bem com uma situação na qual os executivos das principais empresas e os responsáveis do governo, entre outros, são brancos, enquanto os negros ficam restringidos a tarefas sobretudo subalternas; ele apoia ainda as disposições sociais por meio das quais esta situação se perpetua. Podemos agora perguntar pelas razões para isto; podemos perguntar por que motivo se pensa que isto está certo. Haverá alguma coisa nos brancos que os torne mais adequados para os cargos mais bem pagos e mais prestigiados? Serão eles inerentemente mais inteligentes ou mais empreendedores? Será que se importam mais consigo mesmos e com as suas famílias? Serão capazes de beneficiar mais por terem tais cargos à sua disposição? Em cada um destes casos a resposta parece ser não; e se não houver qualquer boa razão para tratar as pessoas de maneira diferente, a discriminação é inaceitavelmente arbitrária.
O requisito da imparcialidade não é, pois, mais do que uma condenação da arbitrariedade no tratamento das pessoas. É uma regra que nos proíbe de tratar uma pessoa de forma diferente de outra quando não há uma boa razão para o fazer. Mas se isto explica o que está errado no racismo, explica igualmente por que razão em alguns casos específicos não é racista tratar as pessoas de forma diferente. Suponha-se que um realizador de cinema estava a fazer um filme sobre a vida de Martin Luther King, Jr. Teria uma razão muito boa para não recrutar Tom Cruise para o papel de protagonista. É claro que a escolha deste ator não faria sentido. Por haver uma boa razão para isso, a «discriminação» do realizador não seria arbitrária, não sendo por isso vulnerável a críticas.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 30-31
sábado, 29 de dezembro de 2012
sexta-feira, 28 de dezembro de 2012
Raciocínio moral
Os casos da bebé Teresa (…) e Tracy Latimer, (…), podem despertar sentimentos fortes. Estes sentimentos são frequentemente sinal de seriedade moral e podem, pois, ser objeto de admiração. Mas podem também ser um obstáculo à descoberta da verdade: quando temos sentimentos fortes relativamente a uma questão, é tentador pressupor que sabemos pura e simplesmente o que a verdade não pode deixar de ser, sem mesmo termos de tomar em consideração os argumentos do lado contrário. Infelizmente não podemos confiar nos nossos sentimentos, por mais fortes que sejam. Os nossos sentimentos podem ser irracionais: podem não ser mais do que resultados de preconceito, egoísmo ou condicionamento cultural. (Numa dada altura, os sentimentos das pessoas diziam-lhes, por exemplo, que os membros de outras raças eram inferiores e que a escravatura fazia parte do próprio plano divino das coisas.) Além disso, os sentimentos de pessoas diferentes dizem-lhes frequentemente coisas opostas: no caso Tracy Latimer, o sentimento forte de algumas pessoas é que o seu pai devia ter sido condenado a uma pena longa, enquanto outras têm o sentimento igualmente forte de que nunca devia ter sido acusado. Estes sentimentos não podem, no entanto, estar ambos corretos.
Assim, se queremos descobrir a verdade, temos de tentar deixar que os nossos sentimentos sejam guiados, tanto quanto possível, pelos argumentos que se fornecem a favor de cada uma das perspetivas opostas. A moralidade é, antes de mais e acima de tudo, uma questão de aconselhamento racional. Em qualquer circunstância dada, a ação moralmente correta é aquela a favor da qual existirem melhores razões.
(…)
Naturalmente, nem todas as razões passíveis de ser apresentadas são boas razões. Há bons e maus argumentos, e muita da perícia do pensamento moral consiste em saber distinguir uns dos outros. Mas como podemos reconhecer as diferenças? Como devemos proceder para avaliar argumentos? Os exemplos que analisámos ilustram alguns aspetos pertinentes.
A primeira coisa a fazer é entender com clareza os factos. É frequente isto não ser tão fácil como parece. Uma fonte de problemas relaciona-se com a dificuldade que por vezes existe em estabelecer os «factos» - as questões podem ser tão complexas e difíceis que nem mesmo os especialistas concordam entre si. Outro problema é o preconceito humano. É frequente querer acreditar numa versão dos factos para apoiar os nossos preconceitos. Os que reprovam a ação de Robert Latimer, por exemplo, quererão acreditar nas previsões do argumento da derrapagem; os que o compreendem não vão querer acreditar nessas previsões. É fácil imaginar outros exemplos do mesmo género: pessoas que não querem dar dinheiro para a caridade consideram com frequência que as organizações de caridade são esbanjadoras, mesmo quando não têm grandes provas disso; e as pessoas que não gostam de homossexuais afirmam que a comunidade gay inclui um número desmesurado de pedófilos, apesar das provas em contrário. Mas os factos existem independentemente dos nossos desejos, e o pensamento moral responsável começa quando tentamos ver as coisas como elas são.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 27-29
De analfabeta a rainha do xadrez
Phiona Mutesi é uma miúda de 16 anos. Nasceu no Uganda, numa favela, Katwe. Quando tinha nove anos, Phiona foi apresentada a um ex-jogador de futebol, Robert Katende. Ele mostrou-lhe um jogo tão estranho que nem sequer tinha um nome no idioma em que ela se expressava: xadrez. Ela sentiu-se atraída pelas figuras das peças. Começou a jogar
Ler aqui
quinta-feira, 27 de dezembro de 2012
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Caso Tracy Latimer 3
O argumento da derrapagem.
Isto conduz naturalmente a outro argumento. Quando o Supremo Tribunal do Canadá confirmou a sentença de Robert Latimer, Tracy Walters, diretora da Associação Canadense de Centros para Uma Vida Independente, afirmou-se «agradavelmente surpreendida» pela decisão. «Teria sido na verdade uma bola de neve e um abrir de portas a outras pessoas para decidirem quem vive e quem morre», afirmou.
Outros defensores dos deficientes fizeram eco desta ideia. Podemos compreender Robert Latimer, afirmaram alguns, podemos até ser tentados a pensar que Tracy está melhor morta. No entanto, é perigoso pensar desta forma. Se aceitarmos qualquer tipo de morte piedosa, iremos dar a uma «derrapagem» inevitável, e no final toda a vida terá perdido o seu valor. Onde devemos pois traçar a fronteira? Se a vida de Tracy Latimer não merece ser protegida, o que dizer então de outros deficientes? Que dizer dos velhos, doentes e outros membros «inúteis» da sociedade? Neste contexto, refere-se frequentemente os nazis, que queriam «purificar a raça», e a implicação é que se não queremos acabar como eles, é melhor não darmos os perigosos primeiros passos.
Tem-se usado «argumento da derrapagem» do mesmo género em relação a todo o tipo de questões. O aborto, a fertilização in vitro (FIV) e, mais recentemente, a clonagem, foram criticados por causa daquilo a que podem conduzir. Uma vez que estes argumentos envolvem especulações sobre o futuro, são manifestamente difíceis de avaliar. Por vezes, é possível verificar, em retrospetiva, que as preocupações eram infundadas. Isto aconteceu com a FIV. Quando, em 1978, nasceu Louise Brown, a primeira «bebé proveta», houve uma série de previsões medonhas sobre o que o futuro poderia reservar para ela, a sua família e a sociedade como um todo. Mas nada de mau aconteceu e a FIV tornou-se um procedimento rotineiro usado para ajudar milhares de casais a ter filhos.
Quando o futuro é desconhecido, pode, no entanto, ser difícil determinar se um argumento deste tipo é sólido. Por outro lado, pessoas razoáveis podem discordar sobre o que poderia acontecer se a morte piedosa fosse aceite em casos como o de Tracy Latimer. Isto dá origem a um tipo de impasse frustrante: os desacordos quanto aos méritos da argumentação podem depender simplesmente das inclinações prévias dos interlocutores – os inclinados a defender o senhor Latimer podem pensar que as previsões são irrealistas, enquanto os predispostos a condená-lo insistem na sensatez das previsões.
Vale a pena notar, no entanto, que este tipo de argumento é atreito a usos abusivos. Se não concordamos com alguma coisa, mas não temos qualquer argumento bom contra ela, podemos sempre fazer previsão sobre as suas possíveis consequências; por mais implausível que a previsão seja, ninguém pode provar que esteja errada. Este método pode ser utilizado para contestar quase tudo. Essa é a razão pela qual os argumentos deste tipo devem ser abordados com cuidado.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 25-27
Isto conduz naturalmente a outro argumento. Quando o Supremo Tribunal do Canadá confirmou a sentença de Robert Latimer, Tracy Walters, diretora da Associação Canadense de Centros para Uma Vida Independente, afirmou-se «agradavelmente surpreendida» pela decisão. «Teria sido na verdade uma bola de neve e um abrir de portas a outras pessoas para decidirem quem vive e quem morre», afirmou.
Outros defensores dos deficientes fizeram eco desta ideia. Podemos compreender Robert Latimer, afirmaram alguns, podemos até ser tentados a pensar que Tracy está melhor morta. No entanto, é perigoso pensar desta forma. Se aceitarmos qualquer tipo de morte piedosa, iremos dar a uma «derrapagem» inevitável, e no final toda a vida terá perdido o seu valor. Onde devemos pois traçar a fronteira? Se a vida de Tracy Latimer não merece ser protegida, o que dizer então de outros deficientes? Que dizer dos velhos, doentes e outros membros «inúteis» da sociedade? Neste contexto, refere-se frequentemente os nazis, que queriam «purificar a raça», e a implicação é que se não queremos acabar como eles, é melhor não darmos os perigosos primeiros passos.
Tem-se usado «argumento da derrapagem» do mesmo género em relação a todo o tipo de questões. O aborto, a fertilização in vitro (FIV) e, mais recentemente, a clonagem, foram criticados por causa daquilo a que podem conduzir. Uma vez que estes argumentos envolvem especulações sobre o futuro, são manifestamente difíceis de avaliar. Por vezes, é possível verificar, em retrospetiva, que as preocupações eram infundadas. Isto aconteceu com a FIV. Quando, em 1978, nasceu Louise Brown, a primeira «bebé proveta», houve uma série de previsões medonhas sobre o que o futuro poderia reservar para ela, a sua família e a sociedade como um todo. Mas nada de mau aconteceu e a FIV tornou-se um procedimento rotineiro usado para ajudar milhares de casais a ter filhos.
Quando o futuro é desconhecido, pode, no entanto, ser difícil determinar se um argumento deste tipo é sólido. Por outro lado, pessoas razoáveis podem discordar sobre o que poderia acontecer se a morte piedosa fosse aceite em casos como o de Tracy Latimer. Isto dá origem a um tipo de impasse frustrante: os desacordos quanto aos méritos da argumentação podem depender simplesmente das inclinações prévias dos interlocutores – os inclinados a defender o senhor Latimer podem pensar que as previsões são irrealistas, enquanto os predispostos a condená-lo insistem na sensatez das previsões.
Vale a pena notar, no entanto, que este tipo de argumento é atreito a usos abusivos. Se não concordamos com alguma coisa, mas não temos qualquer argumento bom contra ela, podemos sempre fazer previsão sobre as suas possíveis consequências; por mais implausível que a previsão seja, ninguém pode provar que esteja errada. Este método pode ser utilizado para contestar quase tudo. Essa é a razão pela qual os argumentos deste tipo devem ser abordados com cuidado.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 25-27
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
A Estação dos Natais
A estação dos Natais comercializados chegou. Para quase toda a gente – fora os miseráveis, o que faz muitas exceções – é uma paragem quente e clara no Inverno cinzento. Para a maioria dos celebrantes de hoje, a grande festa cristã fica limitada a dois grandes ritos: comprar de maneira mais ou menos compulsiva, objetos úteis ou não, e empanturrar-se a si e às pessoas da sua intimidade, numa mistura indestrinçável de sentimentos em que entram igualmente a vontade de dar prazer, a ostentação e a necessidade de se divertir. E não esqueçamos os pinheiros, símbolos antiquíssimos que são a perenidade do mundo vegetal, sempre verdes, trazidos da floresta para acabarem morrendo ao calor dos fogões, e os teleféricos despojando esquiadores na neve inviolada.
Embora não sendo nem católica (exceto de nascimento e de tradição), nem protestante (exceto por algumas leituras e influências de alguns grandes exemplos), nem mesmo cristã no sentido pleno do termo, nem por isso me sinto menos levada a celebrar esta festa tão rica de significados e o seu cortejo de festas menores, o São Nicolau e a Santa Lúcia do Norte, a Candelária e os Reis. Mas limitemo-nos ao Natal, esta festa que é de nós todos. Trata-se de um nascimento, de um nascimento como todos deveriam ser, o de uma criança esperada com amor e respeito, trazendo em si a esperança do mundo. Trata-se dos pobres: uma velha balada francesa canta Maria e José procurando timidamente em Belém uma hospedaria para as suas posses, sempre desprezados em favor de clientes mais ricos e reluzentes e por fim insultados por um patrão que “detesta a pobralhada”. É a festa dos homens de boa vontade, como dizia uma admirável fórmula que infelizmente já nem sempre se encontra nas versões modernas dos Evangelhos, desde a serva surda-muda que ajudou Maria no parto até ao José aquecendo fraldas do recém-nascido diante do pequeno fogo, aos pastores, cobertos de sebo mas julgados dignos das visitas dos anjos. É a festa de uma raça tantas vezes desprezada e perseguida, porque é judeu o recém-nascido do grande mito cristão ( falo do mito com respeito, e emprego a palavra no sentido dos etnólogos modernos, significando as grandes verdades que nos ultrapassam e de que precisamos para viver.)
É a festa dos animais que participam no mistério sagrado desta noite, maravilhoso símbolo de que São Francisco e alguns outros santos sentiram a importância, mas que os cristãos comuns desprezam, não procurando nele inspiração. É a festa da comunidade humana, porque é, ou será dentro de dias, a dos três Reis cuja lenda quis que um fosse preto, alegoria viva de todas as raças da Terra levando ao Menino a variedade dos seus dons. É a festa da alegria, mas também da dor, pois que a criança hoje adorada será amanhã o Homem das Dores. É enfim a festa da própria Terra, que nos ícones da Europa do Leste vemos tantas vezes prosternada à entrada da gruta onde o Menino nasceu, a mesma Terra que na sua marcha atravessa nesse momento o ponto do solstício de inverno e nos arrasta a todos para a primavera. Por esta razão, antes que a Igreja tivesse fixado o nascimento de Cristo nesta data, ela era já, nos tempos antigos, a festa do sol.
Parece que não é mau lembrar estas coisas que toda a gente sabe e que tantos esqueceram.
Marguerite Yourcenar, "O Tempo, esse grande escultor", 1976
Embora não sendo nem católica (exceto de nascimento e de tradição), nem protestante (exceto por algumas leituras e influências de alguns grandes exemplos), nem mesmo cristã no sentido pleno do termo, nem por isso me sinto menos levada a celebrar esta festa tão rica de significados e o seu cortejo de festas menores, o São Nicolau e a Santa Lúcia do Norte, a Candelária e os Reis. Mas limitemo-nos ao Natal, esta festa que é de nós todos. Trata-se de um nascimento, de um nascimento como todos deveriam ser, o de uma criança esperada com amor e respeito, trazendo em si a esperança do mundo. Trata-se dos pobres: uma velha balada francesa canta Maria e José procurando timidamente em Belém uma hospedaria para as suas posses, sempre desprezados em favor de clientes mais ricos e reluzentes e por fim insultados por um patrão que “detesta a pobralhada”. É a festa dos homens de boa vontade, como dizia uma admirável fórmula que infelizmente já nem sempre se encontra nas versões modernas dos Evangelhos, desde a serva surda-muda que ajudou Maria no parto até ao José aquecendo fraldas do recém-nascido diante do pequeno fogo, aos pastores, cobertos de sebo mas julgados dignos das visitas dos anjos. É a festa de uma raça tantas vezes desprezada e perseguida, porque é judeu o recém-nascido do grande mito cristão ( falo do mito com respeito, e emprego a palavra no sentido dos etnólogos modernos, significando as grandes verdades que nos ultrapassam e de que precisamos para viver.)
É a festa dos animais que participam no mistério sagrado desta noite, maravilhoso símbolo de que São Francisco e alguns outros santos sentiram a importância, mas que os cristãos comuns desprezam, não procurando nele inspiração. É a festa da comunidade humana, porque é, ou será dentro de dias, a dos três Reis cuja lenda quis que um fosse preto, alegoria viva de todas as raças da Terra levando ao Menino a variedade dos seus dons. É a festa da alegria, mas também da dor, pois que a criança hoje adorada será amanhã o Homem das Dores. É enfim a festa da própria Terra, que nos ícones da Europa do Leste vemos tantas vezes prosternada à entrada da gruta onde o Menino nasceu, a mesma Terra que na sua marcha atravessa nesse momento o ponto do solstício de inverno e nos arrasta a todos para a primavera. Por esta razão, antes que a Igreja tivesse fixado o nascimento de Cristo nesta data, ela era já, nos tempos antigos, a festa do sol.
Parece que não é mau lembrar estas coisas que toda a gente sabe e que tantos esqueceram.
Marguerite Yourcenar, "O Tempo, esse grande escultor", 1976
Caso Tracy Latimer 2
O argumento contra a discriminação dos deficientes.
Quando Robert Latimer foi sentenciado com tolerância pelo tribunal, muitos deficientes encararam o facto como um insulto. O presidente de Saskatoon Voice of People with Disabilities, que sofre de esclerose múltipla, afirmou: «Ninguém tem o direito de decidir se a minha vida tem um valor inferior a outra. Essa é a grande questão.» Tracy foi morta por ser deficiente, afirmou, e isso é inadmissível. As pessoas deficientes deveriam ser tão respeitadas e ter tantos direitos como qualquer outra pessoa.
O que podemos dizer disto? A discriminação contra qualquer grupo de pessoas é naturalmente, um assunto sério. É inaceitável porque implica tratar algumas pessoas de forma diferente de outras, quando não há diferenças relevantes entre elas para o justificar. Exemplos correntes envolvem situações como a discriminação no local de trabalho. Suponha-se que se recusa um trabalho a uma pessoa cega simplesmente porque o patrão não gosta da ideia de empregar alguém incapaz de ver. Isto não é diferente de recusar empregar alguém por ser negro ou judeu. Para sublinhar o quanto isto é ofensivo, poderíamos perguntar por que razão essa pessoa é tratada de forma diferente. É menos capaz de fazer o trabalho? É mais estúpida ou menos diligente? Merece menos o emprego? É menos capaz de beneficiar da circunstância de estar empregada? Se não há qualquer boa razão para a excluir, então é simplesmente arbitrário tratá-la desta forma.
Mas há algumas circunstâncias nas quais pode justificar-se tratar os deficientes de forma diferente. Por exemplo, ninguém iria defender seriamente que uma pessoa cega deveria ser empregada como controladora de tráfego aéreo. Uma vez que podemos explicar facilmente por que motivo isto não é desejável, a «discriminação» não é arbitrária e não é uma violação dos direitos da pessoa deficiente.
Devemos pensar na morte de Tracy Latimer como um caso de discriminação de deficientes? O senhor Latimer argumentou que a paralisia cerebral de Tracy não era a questão. «As pessoas andam a dizer que isto é uma questão relacionada com a deficiência», afirmou, «mas estão enganadas. Isto diz respeito a tortura. Para Tracy, tratava-se de uma questão de mutilação e tortura». Antes da sua morte, Tracy fora submetida a uma importante e delicada intervenção cirúrgica às costas, ancas e pernas, e havia ainda mais cirurgias planeadas. «Tendo em conta a combinação de um tubo para a alimentação, varetas nas costas, a perna cortada e bamba e ainda as chagas causadas pela permanência na cama», afirmou o pai, «como podem as pessoas dizer que ela era uma menina feliz»? No julgamento, três médicos de Tracy deram o seu testemunho sobre a dificuldade de controlar as suas dores. O senhor Latimer negou, por isso, que ela tenha sido morta por causa da paralisia cerebral; foi morta por causa da dor e por não haver esperança para ela.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 24-25
Quando Robert Latimer foi sentenciado com tolerância pelo tribunal, muitos deficientes encararam o facto como um insulto. O presidente de Saskatoon Voice of People with Disabilities, que sofre de esclerose múltipla, afirmou: «Ninguém tem o direito de decidir se a minha vida tem um valor inferior a outra. Essa é a grande questão.» Tracy foi morta por ser deficiente, afirmou, e isso é inadmissível. As pessoas deficientes deveriam ser tão respeitadas e ter tantos direitos como qualquer outra pessoa.
O que podemos dizer disto? A discriminação contra qualquer grupo de pessoas é naturalmente, um assunto sério. É inaceitável porque implica tratar algumas pessoas de forma diferente de outras, quando não há diferenças relevantes entre elas para o justificar. Exemplos correntes envolvem situações como a discriminação no local de trabalho. Suponha-se que se recusa um trabalho a uma pessoa cega simplesmente porque o patrão não gosta da ideia de empregar alguém incapaz de ver. Isto não é diferente de recusar empregar alguém por ser negro ou judeu. Para sublinhar o quanto isto é ofensivo, poderíamos perguntar por que razão essa pessoa é tratada de forma diferente. É menos capaz de fazer o trabalho? É mais estúpida ou menos diligente? Merece menos o emprego? É menos capaz de beneficiar da circunstância de estar empregada? Se não há qualquer boa razão para a excluir, então é simplesmente arbitrário tratá-la desta forma.
Mas há algumas circunstâncias nas quais pode justificar-se tratar os deficientes de forma diferente. Por exemplo, ninguém iria defender seriamente que uma pessoa cega deveria ser empregada como controladora de tráfego aéreo. Uma vez que podemos explicar facilmente por que motivo isto não é desejável, a «discriminação» não é arbitrária e não é uma violação dos direitos da pessoa deficiente.
Devemos pensar na morte de Tracy Latimer como um caso de discriminação de deficientes? O senhor Latimer argumentou que a paralisia cerebral de Tracy não era a questão. «As pessoas andam a dizer que isto é uma questão relacionada com a deficiência», afirmou, «mas estão enganadas. Isto diz respeito a tortura. Para Tracy, tratava-se de uma questão de mutilação e tortura». Antes da sua morte, Tracy fora submetida a uma importante e delicada intervenção cirúrgica às costas, ancas e pernas, e havia ainda mais cirurgias planeadas. «Tendo em conta a combinação de um tubo para a alimentação, varetas nas costas, a perna cortada e bamba e ainda as chagas causadas pela permanência na cama», afirmou o pai, «como podem as pessoas dizer que ela era uma menina feliz»? No julgamento, três médicos de Tracy deram o seu testemunho sobre a dificuldade de controlar as suas dores. O senhor Latimer negou, por isso, que ela tenha sido morta por causa da paralisia cerebral; foi morta por causa da dor e por não haver esperança para ela.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 24-25
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
sábado, 15 de dezembro de 2012
Caso Tracy Latimer
Tracy Latimer, uma menina de doze anos vítima de paralisia cerebral, foi morta pelo pai em 1993. Tracy vivia com a família numa quinta de uma pradaria de Saskatchewan, no Canadá. Numa manhã de domingo, enquanto a mulher e os filhos estavam na missa, Robert Latimer pôs Tracy na cabina da sua carrinha de caixa aberta e asfixiou-a com o fumo de escape. Na altura da morte, Tracy pesava menos de dezoito quilos; diz-se que tinha «um nível mental idêntico ao de um bebé de três meses». A senhora Latimer afirmou ter ficado aliviada por encontrar Tracy morta ao chegar a casa, e acrescentou que «não tinha coragem» para o fazer.
O senhor Latimer foi julgado por homicídio, mas o juiz e os jurados não quiseram tratá-lo com demasiada dureza. O júri considerou-o apenas culpado de homicídio de segundo grau e recomendou ao juiz para ignorar a sentença obrigatória de vinte e cinco anos de prisão. O juiz concordou e sentenciou Latimer a um ano de cadeia, seguido de um ano de prisão domiciliária na sua quinta. No entanto, o Supremo Tribunal do Canadá revogou a sentença e ordenou a imposição da sentença obrigatória. Robert Latimer está ainda detido, cumprindo uma pena de vinte e cinco anos.
Questões legais à parte, será que o senhor Latimer fez algo de errado? Este caso envolve muitas das questões que já vimos nos outros casos. Um argumento contra o senhor Latimer é que a vida de Tracy tinha valor moral, não tendo ele por isso o direito de a matar. Em sua defesa pode responder-se que a situação de Tracy era tão catastrófica que ela não tinha quaisquer perspetivas de uma «vida» em qualquer sentido além do puramente biológico. A sua existência estava reduzida a nada mais do que sofrimento sem sentido, pelo que matá-la foi um ato de misericórdia. Considerando estes argumentos, parece que talvez o senhor Latimer tenha agido de forma defensável. Houve, no entanto, outros argumentos avançados pelos críticos.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, p. 23
O senhor Latimer foi julgado por homicídio, mas o juiz e os jurados não quiseram tratá-lo com demasiada dureza. O júri considerou-o apenas culpado de homicídio de segundo grau e recomendou ao juiz para ignorar a sentença obrigatória de vinte e cinco anos de prisão. O juiz concordou e sentenciou Latimer a um ano de cadeia, seguido de um ano de prisão domiciliária na sua quinta. No entanto, o Supremo Tribunal do Canadá revogou a sentença e ordenou a imposição da sentença obrigatória. Robert Latimer está ainda detido, cumprindo uma pena de vinte e cinco anos.
Questões legais à parte, será que o senhor Latimer fez algo de errado? Este caso envolve muitas das questões que já vimos nos outros casos. Um argumento contra o senhor Latimer é que a vida de Tracy tinha valor moral, não tendo ele por isso o direito de a matar. Em sua defesa pode responder-se que a situação de Tracy era tão catastrófica que ela não tinha quaisquer perspetivas de uma «vida» em qualquer sentido além do puramente biológico. A sua existência estava reduzida a nada mais do que sofrimento sem sentido, pelo que matá-la foi um ato de misericórdia. Considerando estes argumentos, parece que talvez o senhor Latimer tenha agido de forma defensável. Houve, no entanto, outros argumentos avançados pelos críticos.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, p. 23
sexta-feira, 14 de dezembro de 2012
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
quarta-feira, 12 de dezembro de 2012
terça-feira, 11 de dezembro de 2012
segunda-feira, 10 de dezembro de 2012
sexta-feira, 7 de dezembro de 2012
segunda-feira, 3 de dezembro de 2012
sábado, 1 de dezembro de 2012
Não, não é cansaço
Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...
Álvaro de Campos
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
E um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.
Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta —
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...
Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.
(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)
Porque oiço, vejo.
Confesso: é cansaço!...
Álvaro de Campos
quinta-feira, 29 de novembro de 2012
terça-feira, 27 de novembro de 2012
domingo, 25 de novembro de 2012
quinta-feira, 22 de novembro de 2012
terça-feira, 13 de novembro de 2012
sábado, 10 de novembro de 2012
Empobrecer não é sinónimo de ser Frugal
Há muita gente por aí que confunde conceitos e não sabe o significado das palavras. Muitas vezes essa "confusão" é intencional e tem objetivos obscuros (entram aqui conceitos ideológicos muito perigosos), outras vezes é o resultado de se falar com o coração (sob efeito da emoção) e não se prestar a devida atenção ao que diz .
Há uma enorme diferença entre "empobrecer" e "ser frugal".
De facto, todos temos de viver de forma mais frugal, gastando menos recursos para realizar as mesmas, ou ainda mais, tarefas, ou seja, fazendo mais com menos.
Ser frugal é uma das medidas que temos de tomar para ser mais eficientes, a par da gestão, racionalização, avaliação, responsabilização e ética.
Agora, ser frugal nada tem a ver com "empobrecer", ou seja, ter, dispor, de menores recursos, ou recuar para níveis civilizacionais do passado.
Nós não temos de empobrecer.
Não temos, mesmo.
Temos é de ser mais responsáveis e eficientes com a forma como usamos os recursos que conseguimos gerar. E devemos fazer tudo para gerar ainda mais recursos, ou seja, DEVEMOS ENRIQUECER. Porque com isso melhoramos a nossa vida e fazemos avançar o país.
Ser frugal é uma atitude que permite tudo isto.
É uma forma de estar na vida e, acima de tudo, de respeito pelos outros e pelos recursos públicos.
Digo isto ainda a propósito da confusão gerada recentemente, mas MUITO AFLITO por perceber que o Governo (e os seu ideólogos) não saber a diferença entre os dois conceitos.
Aflito porque, isso sim, é MUITO GRAVE.
Há uma enorme diferença entre "empobrecer" e "ser frugal".
De facto, todos temos de viver de forma mais frugal, gastando menos recursos para realizar as mesmas, ou ainda mais, tarefas, ou seja, fazendo mais com menos.
Ser frugal é uma das medidas que temos de tomar para ser mais eficientes, a par da gestão, racionalização, avaliação, responsabilização e ética.
Agora, ser frugal nada tem a ver com "empobrecer", ou seja, ter, dispor, de menores recursos, ou recuar para níveis civilizacionais do passado.
Nós não temos de empobrecer.
Não temos, mesmo.
Temos é de ser mais responsáveis e eficientes com a forma como usamos os recursos que conseguimos gerar. E devemos fazer tudo para gerar ainda mais recursos, ou seja, DEVEMOS ENRIQUECER. Porque com isso melhoramos a nossa vida e fazemos avançar o país.
Ser frugal é uma atitude que permite tudo isto.
É uma forma de estar na vida e, acima de tudo, de respeito pelos outros e pelos recursos públicos.
Digo isto ainda a propósito da confusão gerada recentemente, mas MUITO AFLITO por perceber que o Governo (e os seu ideólogos) não saber a diferença entre os dois conceitos.
Aflito porque, isso sim, é MUITO GRAVE.
Retirado daqui
Igualdade para os animais?
[…] Estamos habituados a encarar a discriminação contra membros pertencentes a minorias raciais ou contra as mulheres como fazendo parte dos temas morais e políticos mais importantes com que se debate o mundo hoje. Estes problemas são sérios, merecedores do tempo e da energia de qualquer pessoa responsável. Mas que dizer dos animais? Não estará o bem-estar dos animais numa categoria totalmente diferente, que só interessa às pessoas loucas por cães e gatos? Como pode alguém gastar o seu tempo com a igualdade dos animais quando a verdadeira igualdade é negada a tantos seres humanos?
Esta atitude reflete um preconceito popular contra a ideia de levar os interesses dos animais a sério – um preconceito tão infundado como aquele que levou os esclavagistas brancos a não considerar com a devida seriedade os interesses dos seus escravos africanos. É fácil para nós criticar os preconceitos dos nossos avós, de que os nossos pais se libertaram. É mais difícil distanciarmo-nos das nossas próprias perspetivas para podermos procurar desassombradamente os preconceitos que as nossas crenças e os nossos valores escondem. É preciso estarmos agora dispostos a seguir os argumentos até onde eles nos conduzirem, sem a ideia preconcebida de que o problema não merece a nossa atenção.
Peter Singer, Ética Prática, Tradução de Álvaro Augusto Fernandes, Gradiva, Lisboa, 2ª edição, 2002, pp. 75-76
Esta atitude reflete um preconceito popular contra a ideia de levar os interesses dos animais a sério – um preconceito tão infundado como aquele que levou os esclavagistas brancos a não considerar com a devida seriedade os interesses dos seus escravos africanos. É fácil para nós criticar os preconceitos dos nossos avós, de que os nossos pais se libertaram. É mais difícil distanciarmo-nos das nossas próprias perspetivas para podermos procurar desassombradamente os preconceitos que as nossas crenças e os nossos valores escondem. É preciso estarmos agora dispostos a seguir os argumentos até onde eles nos conduzirem, sem a ideia preconcebida de que o problema não merece a nossa atenção.
Peter Singer, Ética Prática, Tradução de Álvaro Augusto Fernandes, Gradiva, Lisboa, 2ª edição, 2002, pp. 75-76
sexta-feira, 9 de novembro de 2012
domingo, 4 de novembro de 2012
O argumento do erro de matar
Os eticistas recorreram igualmente ao princípio de que é errado matar uma pessoa para salvar outra. Retirar os órgãos de Teresa seria matá-la para salvar outros, afirmaram eles; por isso, retirar os órgãos seria errado.
Será este argumento sólido? A proibição de matar é certamente uma das regras morais mais importantes. No entanto, poucas pessoas pensam que matar é sempre errado – a maioria das pessoas pensa que algumas exceções são por vezes justificadas. A questão é, pois, saber se retirar os órgãos da bebé Teresa deveria ser encarrado como uma exceção à regra. Há muitas razões a favor desta ideia, sendo a mais importante que ela morrerá de qualquer maneira, independentemente do que fizermos, ao passo que retirar-lhe os órgãos permitiria pelo menos fazer algum bem a outros bebés. Qualquer pessoa que aceite isto tomará como falsa a primeira premissa do argumento. Em geral é errado matar uma pessoa para salvar outra, mas isso nem sempre é assim.
Mas há outra possibilidade. Talvez a melhor maneira de entender toda a situação fosse encarar desde logo a bebé Teresa como morta. Se isto parece insensato, recorde-se que a «morte cerebral» é hoje amplamente aceite como critério para declarar as pessoas legalmente mortas. Quando o critério da morte cerebral foi proposto pela primeira vez, houve resistências baseadas na ideia de que alguém pode estar cerebralmente morto mas muita coisa continua a funcionar no seu interior – com assistência mecânica o coração pode continuar a bater, pode-se continuar a respirar, e assim por adiante. Mas a morte cerebral foi por fim aceite e as pessoas acostumaram-se a encará-la como «verdadeira» morte. Isto foi sensato porque quando o cérebro para de funcionar deixa de haver esperança de vida consciente.
As anencefalias não satisfazem os requisitos técnicos da morte cerebral tal como é atualmente definida; mas talvez a definição devesse ser reelaborada para as incluir. Afinal de contas, os anencefálicos também não têm perspetivas de vida consciente, pela razão profunda de que não têm cérebro ou cerebelo. Se a definição de morte cerebral fosse reformulada para incluir os anencefálicos, acabaríamos por nos acostumar à ideia de que estes infelizes bebés são nado-mortos e deixaríamos, por isso, de encarar a extração dos seus órgãos como uma forma de os matar. O argumento baseado na ideia de que matar é errado seria então contestável.
Parece pois, no todo, que o argumento a favor do transplante dos órgãos da bebé Teresa é mais forte do que estes argumentos contra o transplante.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 18-19
Será este argumento sólido? A proibição de matar é certamente uma das regras morais mais importantes. No entanto, poucas pessoas pensam que matar é sempre errado – a maioria das pessoas pensa que algumas exceções são por vezes justificadas. A questão é, pois, saber se retirar os órgãos da bebé Teresa deveria ser encarrado como uma exceção à regra. Há muitas razões a favor desta ideia, sendo a mais importante que ela morrerá de qualquer maneira, independentemente do que fizermos, ao passo que retirar-lhe os órgãos permitiria pelo menos fazer algum bem a outros bebés. Qualquer pessoa que aceite isto tomará como falsa a primeira premissa do argumento. Em geral é errado matar uma pessoa para salvar outra, mas isso nem sempre é assim.
Mas há outra possibilidade. Talvez a melhor maneira de entender toda a situação fosse encarar desde logo a bebé Teresa como morta. Se isto parece insensato, recorde-se que a «morte cerebral» é hoje amplamente aceite como critério para declarar as pessoas legalmente mortas. Quando o critério da morte cerebral foi proposto pela primeira vez, houve resistências baseadas na ideia de que alguém pode estar cerebralmente morto mas muita coisa continua a funcionar no seu interior – com assistência mecânica o coração pode continuar a bater, pode-se continuar a respirar, e assim por adiante. Mas a morte cerebral foi por fim aceite e as pessoas acostumaram-se a encará-la como «verdadeira» morte. Isto foi sensato porque quando o cérebro para de funcionar deixa de haver esperança de vida consciente.
As anencefalias não satisfazem os requisitos técnicos da morte cerebral tal como é atualmente definida; mas talvez a definição devesse ser reelaborada para as incluir. Afinal de contas, os anencefálicos também não têm perspetivas de vida consciente, pela razão profunda de que não têm cérebro ou cerebelo. Se a definição de morte cerebral fosse reformulada para incluir os anencefálicos, acabaríamos por nos acostumar à ideia de que estes infelizes bebés são nado-mortos e deixaríamos, por isso, de encarar a extração dos seus órgãos como uma forma de os matar. O argumento baseado na ideia de que matar é errado seria então contestável.
Parece pois, no todo, que o argumento a favor do transplante dos órgãos da bebé Teresa é mais forte do que estes argumentos contra o transplante.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 18-19
O argumento de que as pessoas não devem ser usadas como meios
Os eticistas que se opuseram aos transplantes usaram dois argumentos. O primeiro baseava-se na ideia de que é errado usar pessoas como meio para os fins de outras pessoas. Retirar os órgãos de Teresa teria sido usá-la em benefício de outras crianças; portanto, não se deve fazê-lo.
Será este um argumento sólido? A ideia de que não devemos «usar» pessoas é obviamente apelativa, mas trata-se de uma noção vaga que tem de ser esclarecida. O que significa ao certo? «Usar pessoas» implica geralmente violar a sua autonomia – a capacidade de decidirem por si mesmas como viver as suas próprias vidas, segundo os seus próprios desejos e valores. A autonomia de uma pessoa pode ser violada por meio de manipulação, impostura ou fraude. Por exemplo, posso fingir ser amigo de alguém quando na verdade estou apenas interessado em conhecer a sua irmã; ou posso tentar convencer alguém de que gostará de assistir a um concerto noutra cidade, quando quero apenas que me leve até lá. Em todos estes casos estou a manipular alguém de modo a obter algo para mim próprio. A autonomia é igualmente violada quando as pessoas são forçadas a fazer coisas contra a sua vontade. Isto explica por que razão é errado «usar pessoas»; é errado porque a impostura, a coerção e o engano são errados.
Retirar os órgãos à bebé Teresa não envolveria engano, impostura ou coerção, será que estaríamos a «usá-la» num outro sentido moralmente significativo? Iríamos, é claro usar os seus órgãos em benefício de outra pessoa. Mas fazemos isso sempre que realizamos um transplante. Neste caso, no entanto, iríamos fazê-lo «contra» os seus desejos, isso poderia justificar a nossa oposição; seria uma violação da sua autonomia. Mas a bebé Teresa não é um ser autónomo: não tem desejos e é incapaz de tomar quaisquer decisões.
Quando as pessoas são incapazes de tomar decisões, e outros têm que o fazer em seu lugar, podem adotar duas linhas de orientação razoáveis. Primeiro, podemos perguntar-nos: O que seria melhor para os seus interesses? Se aplicarmos este padrão à bebé Teresa, parece não haver objeções a que lhe retiremos os órgãos, pois, como já vimos, seja qual for a nossa decisão, os seus interesses não serão afetados. Ela, de qualquer maneira, morrerá em breve.
A segunda linha de orientação apela para as preferências da própria pessoa. Poderíamos perguntar: Se pudesse dizer-nos o que quer, que diria ela? Este tipo de pensamento é frequentemente útil quando lidamos com pessoas que sabemos terem preferências mas são incapazes de proferi-las (por exemplo, um paciente em coma que assinou um testamento). Só que, infelizmente, a bebé Teresa não tem preferências sobre coisa alguma e nunca terá. Não podemos, por isso, obter dela qualquer orientação, nem mesmo na nossa imaginação. A conclusão é que ficamos na contingência de fazermos o que consideramos melhor.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 16, 17 e 18
Será este um argumento sólido? A ideia de que não devemos «usar» pessoas é obviamente apelativa, mas trata-se de uma noção vaga que tem de ser esclarecida. O que significa ao certo? «Usar pessoas» implica geralmente violar a sua autonomia – a capacidade de decidirem por si mesmas como viver as suas próprias vidas, segundo os seus próprios desejos e valores. A autonomia de uma pessoa pode ser violada por meio de manipulação, impostura ou fraude. Por exemplo, posso fingir ser amigo de alguém quando na verdade estou apenas interessado em conhecer a sua irmã; ou posso tentar convencer alguém de que gostará de assistir a um concerto noutra cidade, quando quero apenas que me leve até lá. Em todos estes casos estou a manipular alguém de modo a obter algo para mim próprio. A autonomia é igualmente violada quando as pessoas são forçadas a fazer coisas contra a sua vontade. Isto explica por que razão é errado «usar pessoas»; é errado porque a impostura, a coerção e o engano são errados.
Retirar os órgãos à bebé Teresa não envolveria engano, impostura ou coerção, será que estaríamos a «usá-la» num outro sentido moralmente significativo? Iríamos, é claro usar os seus órgãos em benefício de outra pessoa. Mas fazemos isso sempre que realizamos um transplante. Neste caso, no entanto, iríamos fazê-lo «contra» os seus desejos, isso poderia justificar a nossa oposição; seria uma violação da sua autonomia. Mas a bebé Teresa não é um ser autónomo: não tem desejos e é incapaz de tomar quaisquer decisões.
Quando as pessoas são incapazes de tomar decisões, e outros têm que o fazer em seu lugar, podem adotar duas linhas de orientação razoáveis. Primeiro, podemos perguntar-nos: O que seria melhor para os seus interesses? Se aplicarmos este padrão à bebé Teresa, parece não haver objeções a que lhe retiremos os órgãos, pois, como já vimos, seja qual for a nossa decisão, os seus interesses não serão afetados. Ela, de qualquer maneira, morrerá em breve.
A segunda linha de orientação apela para as preferências da própria pessoa. Poderíamos perguntar: Se pudesse dizer-nos o que quer, que diria ela? Este tipo de pensamento é frequentemente útil quando lidamos com pessoas que sabemos terem preferências mas são incapazes de proferi-las (por exemplo, um paciente em coma que assinou um testamento). Só que, infelizmente, a bebé Teresa não tem preferências sobre coisa alguma e nunca terá. Não podemos, por isso, obter dela qualquer orientação, nem mesmo na nossa imaginação. A conclusão é que ficamos na contingência de fazermos o que consideramos melhor.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 16, 17 e 18
sábado, 3 de novembro de 2012
O argumento do benefício
A sugestão dos pais baseava-se na ideia de que, uma vez que Teresa ia morrer em breve, os seus órgãos de nada lhe serviam. As outras crianças, no entanto, poderiam beneficiar deles. Assim, o raciocínio parece ter sido o seguinte: Se podemos beneficiar alguém sem fazer mal a outra pessoa, devemos fazê-lo. Transplantar os órgãos beneficia as outras crianças sem prejudicar a bebé Teresa. Logo, devemos transplantar os órgãos.
Será isto correto? Nem todos os argumentos são sólidos; por isso, não queremos apenas saber que argumentos podem ser aduzidos em defesa de uma dada posição, mas também se esses argumentos são bons. Em geral, um argumento é sólido se as suas premissas e a conclusão resulta logicamente delas. Neste caso, poderemos interrogar-nos sobre a proposição segundo a qual Teresa não seria prejudicada. Afinal de contas, ela morreria; isso não é mau para ela? Mas se refletirmos, parece claro que nestas circunstâncias trágicas os pais tinham razão – estar viva não lhe servia de nada. Estar vivo só é um benefício quando permite a alguém realizar atividades e ter pensamentos, sentimentos, e relações com outras pessoas – por outras palavras, se permite a alguém ter uma vida. Na ausência destas condições, a mera existência biológica não tem valor algum. Por isso, mesmo que Teresa pudesse continuar viva por mais alguns dias, isso nada lhe traria de bom. (Podemos imaginar circunstâncias nas quais outras pessoas beneficiariam em mantê-la viva, mas não é o mesmo que ser ela a beneficiar disso.)
O argumento do benefício fornece, pois, uma poderosa razão para o transplante dos órgãos. Quais são os argumentos do lado contrário?
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 15-16
Será isto correto? Nem todos os argumentos são sólidos; por isso, não queremos apenas saber que argumentos podem ser aduzidos em defesa de uma dada posição, mas também se esses argumentos são bons. Em geral, um argumento é sólido se as suas premissas e a conclusão resulta logicamente delas. Neste caso, poderemos interrogar-nos sobre a proposição segundo a qual Teresa não seria prejudicada. Afinal de contas, ela morreria; isso não é mau para ela? Mas se refletirmos, parece claro que nestas circunstâncias trágicas os pais tinham razão – estar viva não lhe servia de nada. Estar vivo só é um benefício quando permite a alguém realizar atividades e ter pensamentos, sentimentos, e relações com outras pessoas – por outras palavras, se permite a alguém ter uma vida. Na ausência destas condições, a mera existência biológica não tem valor algum. Por isso, mesmo que Teresa pudesse continuar viva por mais alguns dias, isso nada lhe traria de bom. (Podemos imaginar circunstâncias nas quais outras pessoas beneficiariam em mantê-la viva, mas não é o mesmo que ser ela a beneficiar disso.)
O argumento do benefício fornece, pois, uma poderosa razão para o transplante dos órgãos. Quais são os argumentos do lado contrário?
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 15-16
Primeiro exemplo: a bebé Teresa
Theresa Ann Campo Pearson, conhecida publicamente como «Bebé Teresa», é uma criança com anencefalia nascida na Florida em 1992. A anencefalia é uma das mais graves deformidades congénitas. Os bebés anencefálicos são por vezes referidos como «bebés sem cérebro», e isto dá basicamente ideia do problema, mas não é uma imagem totalmente correta. Partes importantes do encéfalo – cérebro e cerebelo – estão em falta, bem como o topo do crânio. Estes bebés têm, no entanto, o tronco cerebral e por isso as funções autónomas como a respiração e os batimentos cardíacos são possíveis. Nos EUA, a maior parte dos casos de anencefalia são detetados durante a gravidez e abortados. Dos não abortados, metade nascem mortos. Cerca de trezentos em cada ano nascem vivos e em geral morrem em poucos dias.
A história da bebé Teresa nada teria de notável não fosse o pedido invulgar feito pelos seus pais. Sabendo que a bebé não poderia viver por muito tempo e, mesmo que pudesse sobreviver, nunca iria ter uma vida consciente, os pais da bebé Teresa ofereceram os seus órgãos para transplante. Pensaram que os seus rins, fígado, coração, pulmões e olhos deveriam ir para crianças que pudessem beneficiar deles. Os médicos acharam uma boa ideia. Pelo menos duas mil crianças em cada ano necessitam de transplantes e nunca há órgãos disponíveis suficientes. Mas os órgãos não foram retirados, porque na Florida a lei não permite a remoção de órgãos até o dador estar morto. Quando, nove dias depois, a bebé Teresa morreu era demasiado tarde para as outras crianças – os órgãos não podiam ser transplantados por se terem deteriorado excessivamente.
As histórias dos jornais sobre a bebé Teresa suscitaram uma onda de debates públicos. Teria sido correto remover os órgãos da criança, causando-lhe dessa forma morte imediata, para ajudar outras crianças? Vários eticistas profissionais – pessoas empregadas por universidades, hospitais e escolas de direito, cujo trabalho consiste em pensar nestas coisas – foram solicitados pela imprensa para comentar o tema. Surpreendentemente, poucos concordaram com os pais e os médicos. Apelaram, ao invés, para princípios filosóficos consagrados para se oporem à remoção dos órgãos. «Parece simplesmente demasiado horrível usar pessoas como meio para os objetivos de outras pessoas», afirmou um desses peritos. Outro explicou: «É imoral matar para salvar. É imoral matar a pessoa A para salvar a pessoa B.» Um terceiro acrescentou: «O que os pais estão realmente a pedir é: matem este bebé moribundo para que os seus órgãos possam ser usados por outra pessoa. Bom, isso é de facto uma proposta horrenda.»
Era realmente horrendo? As opiniões dividiram-se. Os eticistas pensavam que sim, enquanto os pais da bebé e os médicos pensavam que não. Mas não estamos apenas interessados no que as pessoas pensam. Queremos conhecer a verdade da questão. Teriam os pais razão ou não, de facto, ao oferecerem os órgãos da bebé para transplante? Se queremos descobrir a verdade temos de perguntar que razões ou argumentos podem ser concedidos a cada uma das partes. O que poderá dizer-se para justificar a ideia de que o pedido estava errado?
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 14-15
A história da bebé Teresa nada teria de notável não fosse o pedido invulgar feito pelos seus pais. Sabendo que a bebé não poderia viver por muito tempo e, mesmo que pudesse sobreviver, nunca iria ter uma vida consciente, os pais da bebé Teresa ofereceram os seus órgãos para transplante. Pensaram que os seus rins, fígado, coração, pulmões e olhos deveriam ir para crianças que pudessem beneficiar deles. Os médicos acharam uma boa ideia. Pelo menos duas mil crianças em cada ano necessitam de transplantes e nunca há órgãos disponíveis suficientes. Mas os órgãos não foram retirados, porque na Florida a lei não permite a remoção de órgãos até o dador estar morto. Quando, nove dias depois, a bebé Teresa morreu era demasiado tarde para as outras crianças – os órgãos não podiam ser transplantados por se terem deteriorado excessivamente.
As histórias dos jornais sobre a bebé Teresa suscitaram uma onda de debates públicos. Teria sido correto remover os órgãos da criança, causando-lhe dessa forma morte imediata, para ajudar outras crianças? Vários eticistas profissionais – pessoas empregadas por universidades, hospitais e escolas de direito, cujo trabalho consiste em pensar nestas coisas – foram solicitados pela imprensa para comentar o tema. Surpreendentemente, poucos concordaram com os pais e os médicos. Apelaram, ao invés, para princípios filosóficos consagrados para se oporem à remoção dos órgãos. «Parece simplesmente demasiado horrível usar pessoas como meio para os objetivos de outras pessoas», afirmou um desses peritos. Outro explicou: «É imoral matar para salvar. É imoral matar a pessoa A para salvar a pessoa B.» Um terceiro acrescentou: «O que os pais estão realmente a pedir é: matem este bebé moribundo para que os seus órgãos possam ser usados por outra pessoa. Bom, isso é de facto uma proposta horrenda.»
Era realmente horrendo? As opiniões dividiram-se. Os eticistas pensavam que sim, enquanto os pais da bebé e os médicos pensavam que não. Mas não estamos apenas interessados no que as pessoas pensam. Queremos conhecer a verdade da questão. Teriam os pais razão ou não, de facto, ao oferecerem os órgãos da bebé para transplante? Se queremos descobrir a verdade temos de perguntar que razões ou argumentos podem ser concedidos a cada uma das partes. O que poderá dizer-se para justificar a ideia de que o pedido estava errado?
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 14-15
segunda-feira, 29 de outubro de 2012
Experiência Mental
Uma situação imaginária., frequentemente rebuscada, cujo fim é esclarecer uma questão particular.
Por exemplo, para dar relevo ao que valorizamos nas nossas vidas, o filósofo Robert Nozick concebeu a seguinte experiência mental. Imagine que é possível ligar-se a uma máquina de experiências, um tipo de máquina de realidade virtual que lhe dá a ilusão de viver efetivamente a sua vida, mas com o pormenor extra de que tudo o que faz ou lhe acontece é inevitavelmente aprazível. Seja o que for que lhe agrade na vida real pode ser simulado na sua forma mais aprazível na máquina de experiências. Uma vez ligado à máquina, acreditará que todos estes agradáveis acontecimentos ocorrem realmente. Ligar-se-ia de livre vontade a tal máquina para o resto da sua vida? Se, como na maioria dos casos, a sua resposta for «não», isto sugere que valoriza algumas coisas mais do que apenas experiências aprazíveis ilimitadas, embora possa não se ter apercebido disto até ter feito a experiência mental.
A experiência mental da máquina de experiências é obviamente rebuscada. É muito improvável que tal máquina venha a existir no decurso das nossas vidas. Contudo, isso não importa. O propósito da experiência é captar a nossa atitude fundamental para com o prazer e é eficaz em tornar claras as nossas intuições sobre o assunto. Consequentemente, rejeitá-la simplesmente por ser rebuscada é não compreender o seu propósito. A questão real não é a de saber se nos ligaríamos ou não de livre vontade a uma máquina das experiências, mas a de valorizarmos realmente o prazer acima de todas as outras coisas na vida ou não. A experiência mental dá-nos um modo de testar as nossas intuições nessa matéria.
Nigel Warburton, Pensar de A a Z, tradução de Vítor Guerreiro, Editorial Bizâncio, Lisboa, 2012, pp. 124-125
Fotografia: Robert Nozick
Por exemplo, para dar relevo ao que valorizamos nas nossas vidas, o filósofo Robert Nozick concebeu a seguinte experiência mental. Imagine que é possível ligar-se a uma máquina de experiências, um tipo de máquina de realidade virtual que lhe dá a ilusão de viver efetivamente a sua vida, mas com o pormenor extra de que tudo o que faz ou lhe acontece é inevitavelmente aprazível. Seja o que for que lhe agrade na vida real pode ser simulado na sua forma mais aprazível na máquina de experiências. Uma vez ligado à máquina, acreditará que todos estes agradáveis acontecimentos ocorrem realmente. Ligar-se-ia de livre vontade a tal máquina para o resto da sua vida? Se, como na maioria dos casos, a sua resposta for «não», isto sugere que valoriza algumas coisas mais do que apenas experiências aprazíveis ilimitadas, embora possa não se ter apercebido disto até ter feito a experiência mental.
A experiência mental da máquina de experiências é obviamente rebuscada. É muito improvável que tal máquina venha a existir no decurso das nossas vidas. Contudo, isso não importa. O propósito da experiência é captar a nossa atitude fundamental para com o prazer e é eficaz em tornar claras as nossas intuições sobre o assunto. Consequentemente, rejeitá-la simplesmente por ser rebuscada é não compreender o seu propósito. A questão real não é a de saber se nos ligaríamos ou não de livre vontade a uma máquina das experiências, mas a de valorizarmos realmente o prazer acima de todas as outras coisas na vida ou não. A experiência mental dá-nos um modo de testar as nossas intuições nessa matéria.
Nigel Warburton, Pensar de A a Z, tradução de Vítor Guerreiro, Editorial Bizâncio, Lisboa, 2012, pp. 124-125
Fotografia: Robert Nozick
sexta-feira, 26 de outubro de 2012
O filme Matrix encena, de forma vívida, um dos mais discutidos problemas filosóficos. O problema em causa é de tal modo central que afeta muitas áreas da filosofia, as mais óbvias das quais são a teoria do conhecimento e a metafísica, mas também a filosofia da linguagem e da mente.
Neo, o protagonista do filme, descobre que o mundo é completamente diferente do que pensava. Os seres humanos não vivem numa grande metrópole tipicamente americana, conduzindo automóveis e trabalhando em grandes edifícios, vivendo em pequenos apartamentos e divertindo-se em festas. Na realidade, vivem em pequenos casulos semelhantes a úteros, onde vegetam como fetos. Os seus cérebros estão ligados a poderosos computadores que produzem neles todas as sensações que uma vida normal provocaria: cheiram, veem e ouvem coisas, falam e interagem com os outros… ou melhor, têm exatamente as mesmas sensações que teriam se fizessem todas essas coisas – sem as fazerem de facto. É como se vivessem num sonho permanente.
A ideia de que a realidade é radicalmente diferente do que pensamos tem uma longa tradição no pensamento humano. Na República, Platão ilustra-a com a chamada «alegoria da caverna»: os seres humanos são como escravos que vivem numa caverna, tomando vagas sombras projetadas nas suas paredes como se fossem realidades últimas – mas de facto são apenas sombras do que é verdadeiramente real, sombras provocadas pela intensidade do Sol, do qual os escravos, por nunca terem saído da caverna, não têm conhecimento.
Desidério Murcho, PENSAR OUTRA VEZ, FILOSOFIA, VALOR E VERDADE, edições quasi, p.15
Neo, o protagonista do filme, descobre que o mundo é completamente diferente do que pensava. Os seres humanos não vivem numa grande metrópole tipicamente americana, conduzindo automóveis e trabalhando em grandes edifícios, vivendo em pequenos apartamentos e divertindo-se em festas. Na realidade, vivem em pequenos casulos semelhantes a úteros, onde vegetam como fetos. Os seus cérebros estão ligados a poderosos computadores que produzem neles todas as sensações que uma vida normal provocaria: cheiram, veem e ouvem coisas, falam e interagem com os outros… ou melhor, têm exatamente as mesmas sensações que teriam se fizessem todas essas coisas – sem as fazerem de facto. É como se vivessem num sonho permanente.
A ideia de que a realidade é radicalmente diferente do que pensamos tem uma longa tradição no pensamento humano. Na República, Platão ilustra-a com a chamada «alegoria da caverna»: os seres humanos são como escravos que vivem numa caverna, tomando vagas sombras projetadas nas suas paredes como se fossem realidades últimas – mas de facto são apenas sombras do que é verdadeiramente real, sombras provocadas pela intensidade do Sol, do qual os escravos, por nunca terem saído da caverna, não têm conhecimento.
Desidério Murcho, PENSAR OUTRA VEZ, FILOSOFIA, VALOR E VERDADE, edições quasi, p.15
sábado, 20 de outubro de 2012
Pártenon
O primeiro templo que se construiu, entre os anos 447 e 432 a.C., foi também o templo maior. Erigiu-se em honra de Atena Parthénos (donde procede o termo «Pártenon»). Péricles encomendou a direção dos trabalhos e a realização das estátuas ao grande escultor Fídias.
O arquiteto Ictínio e o seu ajudante Calícrates construíram o templo segundo os cânones da ordem dórica, embora o edifício tenha proporções mais grandiosa que os outros templos deste estilo.
A construção completamente realizada em mármore branco, apresenta dezassete colunas nos lados e oito nas duas partes frontais e eleva-se sobre uma base de três degraus (crepidoma). No seu interior, a cela estava rodeada por uma colunata de ordem dórica em três dos seus lados, com colunas acrescentadas em dois deles.
Ao fundo deste recinto erigia-se com solenidade a estátua da deusa, que é uma das mais bonitas obras de Fídias. A sensação de harmonia produzida pela construção deve-se ao facto de as proporções entre as suas diferentes partes serem baseadas numa relação matemática. Também é admirável a beleza das suas colunas.
O arquiteto Ictínio e o seu ajudante Calícrates construíram o templo segundo os cânones da ordem dórica, embora o edifício tenha proporções mais grandiosa que os outros templos deste estilo.
A construção completamente realizada em mármore branco, apresenta dezassete colunas nos lados e oito nas duas partes frontais e eleva-se sobre uma base de três degraus (crepidoma). No seu interior, a cela estava rodeada por uma colunata de ordem dórica em três dos seus lados, com colunas acrescentadas em dois deles.
Ao fundo deste recinto erigia-se com solenidade a estátua da deusa, que é uma das mais bonitas obras de Fídias. A sensação de harmonia produzida pela construção deve-se ao facto de as proporções entre as suas diferentes partes serem baseadas numa relação matemática. Também é admirável a beleza das suas colunas.
Acrópole de Atenas
A Acrópole ou «cidade alta» era o símbolo das cidades gregas. Em Atenas, a Acrópole está situada no cume de uma colina de rocha de 50m de altura. Antes que construíssem os monumentos que a tornaram famosa, era uma cidadela micénica, em que o palácio real estava rodeado de muralhas ciclópicas.
Na polis grega o palácio do rei foi substituído pelo templo dedicado à deusa protetora Atena, transformando-se a Acrópole numa zona sagrada que albergava os edifícios dedicados ao culto no início do século V a.C., a Grécia foi invadida pelos Persas, que tomaram Atenas pelas armas e destruíram a Acrópole.
Na Batalha de Salamina (480 a. C.) a Grécia saiu vencedora das guerras persas e o grande estadista Péricles dedicou os seus anos de governo à reconstrução da Acrópole, tarefa que foi finalizada entre 447 e 400 a.C. o projeto foi encomendado aos melhores arquitetos e escultores da época. Eles realizaram as obras-primas que hoje continuamos a admirar apesar do desgaste sofrido graças ao tempo e à ação humana.
Na polis grega o palácio do rei foi substituído pelo templo dedicado à deusa protetora Atena, transformando-se a Acrópole numa zona sagrada que albergava os edifícios dedicados ao culto no início do século V a.C., a Grécia foi invadida pelos Persas, que tomaram Atenas pelas armas e destruíram a Acrópole.
Na Batalha de Salamina (480 a. C.) a Grécia saiu vencedora das guerras persas e o grande estadista Péricles dedicou os seus anos de governo à reconstrução da Acrópole, tarefa que foi finalizada entre 447 e 400 a.C. o projeto foi encomendado aos melhores arquitetos e escultores da época. Eles realizaram as obras-primas que hoje continuamos a admirar apesar do desgaste sofrido graças ao tempo e à ação humana.
quarta-feira, 17 de outubro de 2012
domingo, 14 de outubro de 2012
O Minotauro
Na cultura mediterrânica, o antiquíssimo mito do Minotauro, com o seu componente animal e feroz, precedeu a mitologia grega.
Metade homem e metade animal, o monstro é uma figura carregada de símbolos e significados. Representa as forças instintivas e incontroladas que estão no inconsciente do homem e que, quando afloram, têm muitas vezes efeitos devastadores.
Quadro: Minotauro, Pablo Picasso. 1936. Guache, 50 x 65 cm (Museu Picasso. Paris)
Metade homem e metade animal, o monstro é uma figura carregada de símbolos e significados. Representa as forças instintivas e incontroladas que estão no inconsciente do homem e que, quando afloram, têm muitas vezes efeitos devastadores.
Quadro: Minotauro, Pablo Picasso. 1936. Guache, 50 x 65 cm (Museu Picasso. Paris)
sábado, 13 de outubro de 2012
O legado de Sócrates
Sócrates não foi «o primeiro filósofo» - tradicionalmente, esse título é reservado a Tales, que viveu um século antes. (Porquê Tales? Porque Aristóteles o listou em primeiro lugar.) Ainda assim, os historiadores costumam designar Tales e os outros filósofos anteriores a Sócrates por «pré-socráticos», sugerindo assim que eles pertencem a uma espécie de pré-história filosófica e que Sócrates assinala o verdadeiro começo.
Aquilo que colocou Sócrates em destaque foi o seu método, e não tanto as suas doutrinas. Sócrates baseava-se na argumentação, insistindo que só se descobre a verdade pelo uso da razão. O seu legado reside sobretudo na sua convicção inabalável de que mesmo as questões mais abstratas admitem uma análise racional. O que é a justiça? Será que a alma é imortal? Poderá alguma vez ser certo maltratar alguém? Será possível saber o que é certo fazer e, ainda assim, proceder de outro modo? Sócrates pensava que estes problemas não eram meras questões de opinião. Existem respostas verdadeiras para eles, que podemos descobrir se pensarmos de uma forma suficientemente profunda. Era também isto que incomodava os acusadores de Sócrates, os quais, segundo o relato de Platão, desconfiavam da razão e preferiam basear-se na opinião popular, no costume e na autoridade religiosa.
Sócrates acreditava que alguns argumentos eram tão fortes que o compeliam a permanecer em Atenas e a aceitar a morte. Poderá isto ser verdade? Que argumentos poderiam ser assim tão poderosos? A questão essencial, disse a Críton, era a de saber se tinha a obrigação de obedecer às leis de Atenas. As leis tinham-lhe feito uma exigência. Teria de lhes obedecer? A sua discussão foi a primeira investigação filosófica sobre a natureza da obrigação política.
James Rachels, PROBLEMAS DA FILOSOFIA, tradução de Pedro Galvão, Gradiva, Lisboa, 2009, pp.17-18
Aquilo que colocou Sócrates em destaque foi o seu método, e não tanto as suas doutrinas. Sócrates baseava-se na argumentação, insistindo que só se descobre a verdade pelo uso da razão. O seu legado reside sobretudo na sua convicção inabalável de que mesmo as questões mais abstratas admitem uma análise racional. O que é a justiça? Será que a alma é imortal? Poderá alguma vez ser certo maltratar alguém? Será possível saber o que é certo fazer e, ainda assim, proceder de outro modo? Sócrates pensava que estes problemas não eram meras questões de opinião. Existem respostas verdadeiras para eles, que podemos descobrir se pensarmos de uma forma suficientemente profunda. Era também isto que incomodava os acusadores de Sócrates, os quais, segundo o relato de Platão, desconfiavam da razão e preferiam basear-se na opinião popular, no costume e na autoridade religiosa.
Sócrates acreditava que alguns argumentos eram tão fortes que o compeliam a permanecer em Atenas e a aceitar a morte. Poderá isto ser verdade? Que argumentos poderiam ser assim tão poderosos? A questão essencial, disse a Críton, era a de saber se tinha a obrigação de obedecer às leis de Atenas. As leis tinham-lhe feito uma exigência. Teria de lhes obedecer? A sua discussão foi a primeira investigação filosófica sobre a natureza da obrigação política.
James Rachels, PROBLEMAS DA FILOSOFIA, tradução de Pedro Galvão, Gradiva, Lisboa, 2009, pp.17-18
Filosofia
Em filosofia discutem-se ideias insusceptíveis de tratamento experimental ou exclusivamente formal. Insiste-se em pensar cuidadosamente e de forma tão sistemática quanto possível quando nem o laboratório nem a demonstração matemática nos dão respostas. Procura-se avaliar imparcialmente ideias opostas, usando da melhor maneira possível as nossas capacidades racionais para pesar as coisas. Corretamente entendida, a filosofia faz-nos mais humanos porque nos faz pensar quando o pensamento é difícil, quando a solução não é óbvia, quando não há métodos seguros que garantam resultados – quando a tentação de desistir e parar de pensar é grande.
Desidério Murcho, PENSAR OUTRA VEZ, FILOSOFIA,VALOR E VERDADE, Edições Quasi, p. 11
Desidério Murcho, PENSAR OUTRA VEZ, FILOSOFIA,VALOR E VERDADE, Edições Quasi, p. 11
quinta-feira, 11 de outubro de 2012
Russell e a Filosofia
«Bertrand Russell foi um dos maiores filósofos do séc. XX e um dos fundadores da filosofia analítica. (…) Russell ganhou o prémio Nobel da Literatura em 1950, e sempre foi uma figura pública, intervindo em várias frentes como humanista e pacifista, pelo que era relativamente conhecido mesmo no Portugal marcelista. (…)
A independência intelectual, o espírito crítico, o poder de reflexão, o domínio da argumentação – os frutos e as armas da filosofia – não foram para Russell meras palavras sem conteúdo, mas antes princípios que orientaram a sua vida pública. Não é fácil entre nós conceber que a filosofia possa ser responsável pela independência de espírito necessária para colocar a felicidade e o bem-estar dos seres humanos acima dos cegos ditames do preconceito. Mas isto é o que acontece quando em filosofia se aprende a discutir ideias e a pensar autonomamente, em vez de nos limitarmos a associar palavras e a citar frases de filósofos mortos. A filosofia é uma atividade crítica, criativa e viva e a intervenção de Russell na vida pública é um dos exemplos do poder da reflexão para ultrapassar os preconceitos do nosso tempo.»
Desidério Murcho, PENSAR OUTRA VEZ, FILOSOFIA,VALOR E VERDADE, Edições Quasi, pp. 161-162
A independência intelectual, o espírito crítico, o poder de reflexão, o domínio da argumentação – os frutos e as armas da filosofia – não foram para Russell meras palavras sem conteúdo, mas antes princípios que orientaram a sua vida pública. Não é fácil entre nós conceber que a filosofia possa ser responsável pela independência de espírito necessária para colocar a felicidade e o bem-estar dos seres humanos acima dos cegos ditames do preconceito. Mas isto é o que acontece quando em filosofia se aprende a discutir ideias e a pensar autonomamente, em vez de nos limitarmos a associar palavras e a citar frases de filósofos mortos. A filosofia é uma atividade crítica, criativa e viva e a intervenção de Russell na vida pública é um dos exemplos do poder da reflexão para ultrapassar os preconceitos do nosso tempo.»
Desidério Murcho, PENSAR OUTRA VEZ, FILOSOFIA,VALOR E VERDADE, Edições Quasi, pp. 161-162
terça-feira, 11 de setembro de 2012
segunda-feira, 3 de setembro de 2012
quarta-feira, 22 de agosto de 2012
sexta-feira, 17 de agosto de 2012
Engenharia genética de bebés é uma "obrigação moral"
Utilizar a engenharia genética para evitar o nascimento de potenciais psicopatas ou alcoólicos é a ideia defendida por Julian Savulescu, um reputado professor da Universidade de Oxford, num artigo publicado na última edição inglesa da "Reader's Digest".
A engenharia genética é proibida por lei, para evitar que se repitam práticas discriminatórias, semelhantes às dos movimentos eugenistas, desenvolvidas pelos nazis na Segunda Guerra Mundial, que agora teriam um potencial muito maior devido ao avanço da ciência.
O académico chama contudo a atenção que estamos no meio de uma revolução genética e que cada vez se está a perceber melhor como certos marcadores genéticos dos embriões sugerem futuras característica de personalidade, argumentando que se deveriam utilizar esse conhecimento para criar uma futura sociedade mais inteligente e menos violenta.
A engenharia genética é proibida por lei, para evitar que se repitam práticas discriminatórias, semelhantes às dos movimentos eugenistas, desenvolvidas pelos nazis na Segunda Guerra Mundial, que agora teriam um potencial muito maior devido ao avanço da ciência.
O académico chama contudo a atenção que estamos no meio de uma revolução genética e que cada vez se está a perceber melhor como certos marcadores genéticos dos embriões sugerem futuras característica de personalidade, argumentando que se deveriam utilizar esse conhecimento para criar uma futura sociedade mais inteligente e menos violenta.
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terça-feira, 14 de agosto de 2012
A verdadeira tragédia do aborto
Na República Dominicana, no mês passado, uma adolescente grávida que sofria de leucemia viu adiada a sua quimioterapia, porque os médicos receavam que o tratamento pudesse terminar a gravidez e assim violar a rígida lei antiaborto do país. Depois de conversações entre médicos, advogados e a família da rapariga, a quimioterapia foi iniciada, mas não antes de ter sido mais uma vez dada atenção à rigidez das leis do aborto em muitos países em desenvolvimento.
O aborto recebe cobertura extensiva dos meios de comunicação nos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos, onde os republicanos têm usado a sua oposição ao tema para reunir votantes. Recentemente, a campanha para a reeleição do Presidente Barack Obama contra-atacou, lançando um anúncio televisivo onde uma mulher diz que é “um tempo assustador para se ser mulher”, porque Mitt Romney disse que apoia a criminalização do aborto.
O aborto recebe cobertura extensiva dos meios de comunicação nos países desenvolvidos, especialmente nos Estados Unidos, onde os republicanos têm usado a sua oposição ao tema para reunir votantes. Recentemente, a campanha para a reeleição do Presidente Barack Obama contra-atacou, lançando um anúncio televisivo onde uma mulher diz que é “um tempo assustador para se ser mulher”, porque Mitt Romney disse que apoia a criminalização do aborto.
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sexta-feira, 10 de agosto de 2012
terça-feira, 7 de agosto de 2012
sexta-feira, 3 de agosto de 2012
quinta-feira, 2 de agosto de 2012
segunda-feira, 30 de julho de 2012
sexta-feira, 27 de julho de 2012
A morte em tribunal
Gloria Taylor, canadiana, tem esclerose lateral amiotrófica (ELA), também conhecida por doença de Lou Gehrig. Durante um período de alguns anos, os seus músculos enfraquecerão até que já não possa andar, usar as mãos, mastigar, engolir, falar e, por fim, respirar. Depois ela morrerá. Taylor não quer passar por tudo isso. Ela quer morrer na altura que escolher.
O suicídio não é um crime no Canadá, portanto, como Taylor diz: “Simplesmente não consigo compreender porque é que a lei diz que os doentes terminais fisicamente aptos estão autorizados a disparar sobre si quando já não podem mais, por serem capazes de empunhar uma arma com firmeza, mas porque a minha doença afecta a capacidade de me mover e controlar o meu corpo, não me é permitida uma ajuda compassiva que me permita cometer um acto equivalente utilizando medicação letal.”
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O suicídio não é um crime no Canadá, portanto, como Taylor diz: “Simplesmente não consigo compreender porque é que a lei diz que os doentes terminais fisicamente aptos estão autorizados a disparar sobre si quando já não podem mais, por serem capazes de empunhar uma arma com firmeza, mas porque a minha doença afecta a capacidade de me mover e controlar o meu corpo, não me é permitida uma ajuda compassiva que me permita cometer um acto equivalente utilizando medicação letal.”
Taylor vê a lei como oferecendo-lhe uma escolha cruel: ou terminar a sua vida quando ainda a acha agradável, mas é capaz de se matar, ou abdicar do direito que os outros têm de terminar as suas vidas quando escolhem. Ela foi a tribunal, argumentando que as provisões do Código Criminal que a previnem de receber assistência à morte são inconsistentes com a Carta Canadiana de Direitos e Liberdades, que dá aos canadianos os direitos à vida, à liberdade, à segurança pessoal e à igualdade.
O processo foi notável pela exaustividade com que a juíza Lynn Smith examinou as questões éticas que se lhe apresentavam. Recebeu opiniões periciais de figuras proeminentes em ambos os lados da questão, não apenas canadianos, mas também autoridades na Austrália, Bélgica, Países-Baixos, Nova Zelândia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. A gama de competências incluía medicina geral, cuidados paliativos, neurologia, estudos de invalidez,
O processo foi notável pela exaustividade com que a juíza Lynn Smith examinou as questões éticas que se lhe apresentavam. Recebeu opiniões periciais de figuras proeminentes em ambos os lados da questão, não apenas canadianos, mas também autoridades na Austrália, Bélgica, Países-Baixos, Nova Zelândia, Suíça, Reino Unido e Estados Unidos. A gama de competências incluía medicina geral, cuidados paliativos, neurologia, estudos de invalidez,
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quinta-feira, 19 de julho de 2012
quarta-feira, 18 de julho de 2012
terça-feira, 17 de julho de 2012
segunda-feira, 16 de julho de 2012
domingo, 15 de julho de 2012
sexta-feira, 13 de julho de 2012
quarta-feira, 11 de julho de 2012
segunda-feira, 9 de julho de 2012
O Bosão de Higgs
Quais são as partículas elementares da matéria? O que é um bosão? Porque é o de Higgs foi batizado como “partícula de Deus”? Estas são algumas das perguntas a que o físico Carlos Fiolhais responde, a propósito do bosão de Higgs.
António Piedade (AP) – Quais são hoje as partículas elementares da matéria, 100 anos depois do modelo de Rutherford para um átomo, com protões e neutrões num núcleo orbitado por eletrões?
Carlos Fiolhais (CF) – As partículas elementares de matéria são os quarks (que formam os protões e neutrões do núcleo atómico), os eletrões e os neutrinos.
António Piedade (AP) – Quais são hoje as partículas elementares da matéria, 100 anos depois do modelo de Rutherford para um átomo, com protões e neutrões num núcleo orbitado por eletrões?
Carlos Fiolhais (CF) – As partículas elementares de matéria são os quarks (que formam os protões e neutrões do núcleo atómico), os eletrões e os neutrinos.
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sexta-feira, 6 de julho de 2012
quinta-feira, 5 de julho de 2012
sábado, 30 de junho de 2012
quinta-feira, 28 de junho de 2012
Sibila
Para salvar Eneias do inferno, Apolo concedeu a imortalidade à Sibila, a sacerdotisa do oráculo de Cumae. Mas havia uma armadilha. Apesar de toda a sua sabedoria, a Sibila esqueceu-se de pedir a eterna juventude necessária para contrabalançar o destino que acabou por vitimá-la: ficou simplesmente cada vez mais velha, encolhendo mais e mais até, humilhada, ser metida num jarro de vidro para que todos pudessem escarnecê-la. Quando um grupo de rapazes veio perguntar-lhe o que queria, respondeu de forma sinistra: “Quero morrer”.
Robert Rowland Smith, “Uma Viagem Com Platão”, lua de papel, 2011, Tradução de Francisco J. Azevedo Gonçalves, p. 195
Robert Rowland Smith, “Uma Viagem Com Platão”, lua de papel, 2011, Tradução de Francisco J. Azevedo Gonçalves, p. 195
Imagem retirada daqui
quarta-feira, 27 de junho de 2012
Alan Turing
Alan Mathison Turing nasceu em 23 de Junho de 1912 em Londres, filho de um oficial britânico, Julius Mathison e Ethel Sara Turing. A maior parte do seu trabalho foi desenvolvida no serviço de espionagem, durante a II Grande Guerra, levando-o somente por volta de 1975 a ser reconhecido como um dos grandes pioneiros no campo da computação.
Depois de concluir o mestrado em King's College (1935) e receber o Smith's Prize em 1936 com um trabalho sobre a Teoria das Probabilidades, Turing enveredou-se pela área da computação. A sua preocupação era saber o que efetivamente a computação poderia fazer. As respostas vieram sob a forma teórica, de uma máquina conhecida como Turing Universal Machine, que possibilitava calcular qualquer número e função, de acordo com instruções apropriadas.
Quando a II Guerra Mundial eclodiu, Turing foi trabalhar no Departamento de Comunicações da Grã Bretanha (Government Code and Cypher School) em Buckinghamshire, com o intuito de quebrar o código das comunicações alemãs, produzido por um tipo de computador chamado Enigma. Este código era constantemente trocado, obrigando os inimigos a tentar descodificá-lo correndo contra o relógio. Turing e seus colegas cientistas trabalharam num sistema que foi chamado de Colossus, um enorme emaranhado de servomotores e metal, considerado um precursor dos computadores digitais
Depois de concluir o mestrado em King's College (1935) e receber o Smith's Prize em 1936 com um trabalho sobre a Teoria das Probabilidades, Turing enveredou-se pela área da computação. A sua preocupação era saber o que efetivamente a computação poderia fazer. As respostas vieram sob a forma teórica, de uma máquina conhecida como Turing Universal Machine, que possibilitava calcular qualquer número e função, de acordo com instruções apropriadas.
Quando a II Guerra Mundial eclodiu, Turing foi trabalhar no Departamento de Comunicações da Grã Bretanha (Government Code and Cypher School) em Buckinghamshire, com o intuito de quebrar o código das comunicações alemãs, produzido por um tipo de computador chamado Enigma. Este código era constantemente trocado, obrigando os inimigos a tentar descodificá-lo correndo contra o relógio. Turing e seus colegas cientistas trabalharam num sistema que foi chamado de Colossus, um enorme emaranhado de servomotores e metal, considerado um precursor dos computadores digitais
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terça-feira, 26 de junho de 2012
segunda-feira, 25 de junho de 2012
sexta-feira, 22 de junho de 2012
O uso e abuso da liberdade religiosa
Quais são os limites certos da liberdade religiosa? Marianne Thieme, líder do Partido pelos Animais da Holanda, responde da seguinte forma: "A liberdade religiosa termina onde o sofrimento humano ou animal começa".
O Partido pelos Animais, o único partido pelos direitos dos animais com representação num parlamento nacional, propôs uma lei que exige que todos os animais sejam atordoados antes do abate. A proposta uniu líderes islâmicos e judeus em defesa daquilo que consideram uma ameaça à sua liberdade religiosa, porque as suas doutrinas religiosas proíbem a ingestão de carne de animais que não estejam conscientes quando são abatidos.
O parlamento holandês concedeu aos líderes o prazo de um ano para provar que os seus métodos de abate ditados pela religião não são mais dolorosos do que o abate precedido de atordoamento. Caso não consigam fazê-lo, a exigência de atordoamento antes do abate será implementada.
Entretanto, nos Estados Unidos, bispos católicos afirmaram que o presidente Barack Obama está a violar a sua liberdade religiosa ao exigir que todas as grandes entidades empregadoras, incluindo universidades e hospitais católicos, ofereçam aos seus trabalhadores seguros de saúde que incluam a contracepção. E, em Israel, os ultra-ortodoxos, cuja interpretação da lei judaica proíbe os homens de tocar nas mulheres que não sejam suas esposas ou com quem não tenham relacionamento, pretendem separar os lugares para homens e mulheres nos autocarros e suspender o plano do governo para acabar com a isenção do serviço militar para estudantes religiosos a tempo inteiro (63 mil em 2010).
Quando as pessoas são proibidas de praticar a sua religião – por exemplo, através de leis que proíbem determinadas formas de adoração – não poderá haver quaisquer dúvidas de que a sua liberdade religiosa foi violada. A perseguição religiosa era habitual nos séculos passados e actualmente ainda persiste em alguns países.
Mas o facto de se proibir o abate ritual de animais não impede os judeus ou os muçulmanos de praticarem a sua religião. Durante o debate sobre a proposta do Partido pelos Animais, o rabino Binyomin Jacobs, grande rabino da Holanda, dirigiu-se aos membros do parlamento com a seguinte afirmação: “Se já não tivermos ninguém que possa fazer o abate ritual na Holanda, deixaremos de comer carne”. E isso, obviamente, é o que se deve fazer quando se professa uma religião que exige que os animais sejam abatidos de uma forma menos humana do que aquela que se pode conseguir através de técnicas modernas.
Nem o Islão nem o Judaísmo defendem qualquer obrigação de comer carne. Não peço aos judeus e aos muçulmanos que façam mais do que eu próprio optei por fazer, por razões éticas, há mais de 40 anos.
Restringir a legítima defesa da liberdade religiosa à rejeição de propostas que impedem as pessoas de praticar a sua religião, torna possível a resolução de muitos outros litígios em que se afirma que a liberdade de religião está em jogo. Por exemplo, permitir que homens e mulheres se sentem em qualquer lugar de um autocarro não viola a liberdade religiosa dos judeus ortodoxos, porque a lei judaica não ordena que se utilizem os transportes públicos. É apenas uma comodidade da qual se pode prescindir – e os judeus ortodoxos têm dificuldade em acreditar que as leis que professam tivessem o objectivo de tornar a vida o mais cómoda possível.
O Partido pelos Animais, o único partido pelos direitos dos animais com representação num parlamento nacional, propôs uma lei que exige que todos os animais sejam atordoados antes do abate. A proposta uniu líderes islâmicos e judeus em defesa daquilo que consideram uma ameaça à sua liberdade religiosa, porque as suas doutrinas religiosas proíbem a ingestão de carne de animais que não estejam conscientes quando são abatidos.
O parlamento holandês concedeu aos líderes o prazo de um ano para provar que os seus métodos de abate ditados pela religião não são mais dolorosos do que o abate precedido de atordoamento. Caso não consigam fazê-lo, a exigência de atordoamento antes do abate será implementada.
Entretanto, nos Estados Unidos, bispos católicos afirmaram que o presidente Barack Obama está a violar a sua liberdade religiosa ao exigir que todas as grandes entidades empregadoras, incluindo universidades e hospitais católicos, ofereçam aos seus trabalhadores seguros de saúde que incluam a contracepção. E, em Israel, os ultra-ortodoxos, cuja interpretação da lei judaica proíbe os homens de tocar nas mulheres que não sejam suas esposas ou com quem não tenham relacionamento, pretendem separar os lugares para homens e mulheres nos autocarros e suspender o plano do governo para acabar com a isenção do serviço militar para estudantes religiosos a tempo inteiro (63 mil em 2010).
Quando as pessoas são proibidas de praticar a sua religião – por exemplo, através de leis que proíbem determinadas formas de adoração – não poderá haver quaisquer dúvidas de que a sua liberdade religiosa foi violada. A perseguição religiosa era habitual nos séculos passados e actualmente ainda persiste em alguns países.
Mas o facto de se proibir o abate ritual de animais não impede os judeus ou os muçulmanos de praticarem a sua religião. Durante o debate sobre a proposta do Partido pelos Animais, o rabino Binyomin Jacobs, grande rabino da Holanda, dirigiu-se aos membros do parlamento com a seguinte afirmação: “Se já não tivermos ninguém que possa fazer o abate ritual na Holanda, deixaremos de comer carne”. E isso, obviamente, é o que se deve fazer quando se professa uma religião que exige que os animais sejam abatidos de uma forma menos humana do que aquela que se pode conseguir através de técnicas modernas.
Nem o Islão nem o Judaísmo defendem qualquer obrigação de comer carne. Não peço aos judeus e aos muçulmanos que façam mais do que eu próprio optei por fazer, por razões éticas, há mais de 40 anos.
Restringir a legítima defesa da liberdade religiosa à rejeição de propostas que impedem as pessoas de praticar a sua religião, torna possível a resolução de muitos outros litígios em que se afirma que a liberdade de religião está em jogo. Por exemplo, permitir que homens e mulheres se sentem em qualquer lugar de um autocarro não viola a liberdade religiosa dos judeus ortodoxos, porque a lei judaica não ordena que se utilizem os transportes públicos. É apenas uma comodidade da qual se pode prescindir – e os judeus ortodoxos têm dificuldade em acreditar que as leis que professam tivessem o objectivo de tornar a vida o mais cómoda possível.
Peter Singer
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segunda-feira, 18 de junho de 2012
quarta-feira, 6 de junho de 2012
terça-feira, 5 de junho de 2012
domingo, 3 de junho de 2012
sexta-feira, 1 de junho de 2012
quarta-feira, 30 de maio de 2012
domingo, 27 de maio de 2012
sábado, 26 de maio de 2012
Amigo
Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».
«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.
«Amigo» é a solidão derrotada!
«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!
Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'
sexta-feira, 25 de maio de 2012
sábado, 19 de maio de 2012
terça-feira, 15 de maio de 2012
sábado, 12 de maio de 2012
quarta-feira, 9 de maio de 2012
terça-feira, 8 de maio de 2012
Decifrar o cancro da mama
Todos nós conhecemos casos. Segundo a Liga Portuguesa Contra o Cancro, são anualmente detectados em Portugal cerca de 4500 novos casos de cancro da mama, que dão lugar à morte de cerca de 1500 mulheres por ano. O cancro, a quem já alguém chamou “o imperador de todos os males” (é o título de um livro, distinguido com o Prémio Pulitzer de 2011, da autoria do oncologista Siddartha Mukherjee, cuja tradução portuguesa saiu há pouco na Bertrand), é muito traiçoeiro, mas, se detectado a tempo, não tem de ser fatal. Sabemos hoje que o crescimento anormal de células tem origem na acumulação de modificações genéticas e cada vez compreendemos melhor os mecanismos de proliferação, conhecimento que nos permite melhores diagnótico e tratamento. Modernas técnicas de sequenciação do genoma têm permitido caracterizar os vários tipos da doença, proporcionando tratamentos personalizados.
Os biólogos portugueses Carlos Caldas, a trabalhar na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Samuel Aparício, a trabalhar na Universidade de British Columbia, no Canadá, acabam de dar um enorme passo em frente no mapeamento do cancro da mama e, portanto, no seu combate. No quadro de um projecto que reuniu equipas dos dois continentes examinaram os cromossomas de células tumorais de cerca de duas mil mulheres, com acompanhamento clínico ao longo de vários anos. É o maior estudo genético de amostras de cancro alguma vez realizado. Os resultados, que acabam de ser publicados na revista Nature, a revista científica de maior impacto no mundo, embora concordando com outros estudos similares que indicam uma grande variedade de formas de cancro, não deixam de ser surpreendentes: afinal não há apenas quatro tipos de cancro da mama, conforme se supunha, mas dez. Nos genes podemos não apenas ver padrões, mas também encontrar histórias sobre o modo como esses padrões se formaram. É uma evolução rápida que acontece quando algo começa a correr mal na divisão celular, por vezes devido a algum pequeno defeito inicial. E essa evolução acontece de dez modos principais. Na maior parte dos casos, o pior pode, felizmente, ser evitado.
A decifração do genoma humano está a permitir uma revolução na medicina. E, embora lá fora, há portugueses na linha da frente.
Carlos Fiolhais in De Rerum Natura
Os biólogos portugueses Carlos Caldas, a trabalhar na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Samuel Aparício, a trabalhar na Universidade de British Columbia, no Canadá, acabam de dar um enorme passo em frente no mapeamento do cancro da mama e, portanto, no seu combate. No quadro de um projecto que reuniu equipas dos dois continentes examinaram os cromossomas de células tumorais de cerca de duas mil mulheres, com acompanhamento clínico ao longo de vários anos. É o maior estudo genético de amostras de cancro alguma vez realizado. Os resultados, que acabam de ser publicados na revista Nature, a revista científica de maior impacto no mundo, embora concordando com outros estudos similares que indicam uma grande variedade de formas de cancro, não deixam de ser surpreendentes: afinal não há apenas quatro tipos de cancro da mama, conforme se supunha, mas dez. Nos genes podemos não apenas ver padrões, mas também encontrar histórias sobre o modo como esses padrões se formaram. É uma evolução rápida que acontece quando algo começa a correr mal na divisão celular, por vezes devido a algum pequeno defeito inicial. E essa evolução acontece de dez modos principais. Na maior parte dos casos, o pior pode, felizmente, ser evitado.
A decifração do genoma humano está a permitir uma revolução na medicina. E, embora lá fora, há portugueses na linha da frente.
Carlos Fiolhais in De Rerum Natura
terça-feira, 1 de maio de 2012
segunda-feira, 30 de abril de 2012
Ascensão e queda de teorias científicas
Não é por uma teoria cientifica cair que deixa de ser científica. Pelo contrário, só as teorias científicas podem cair, por poderem estar erradas, isto é, por serem passíveis de negação, pela lógica, pela observação e pela experiência. Por exemplo, o sistema geocêntrico foi substituído pelo sistema heliocêntrico, no século XVI, por ser mais lógico e estar mais de acordo com as observações. Foi Galileu, no século seguinte, quem fez vingar a visão de Copérnico. Por outro lado, no mesmo século, a teoria de movimento de Aristóteles foi substituída pela mecânica de Galileu e Newton, que tinha, ao contrário das antigas ideias gregas, não só sustentação matemática como também um enorme poder preditivo na descrição de acontecimentos reais. Em tempos mais recentes, ao longo do século XIX, o energicismo, que teve em Ostwald e Mach dois dos seus últimos defensores, deu lugar ao atomismo, de Maxwell, Boltzmann e outros, por os átomos terem inequivocamente, num extenso rol de experiências, dado provas da sua existência.
Carlos Fiolhais
Ler aqui
quinta-feira, 26 de abril de 2012
Maria Judite Carvalho
«Há hoje um cheiro a partir
um cheiro a não estar aqui,
um cheiro a mar verde-pálido,
de algas soltas, sem raízes.
Estou no cais mas não saí.
Tenho um passaporte inválido
para todos os países.»
Maria Judite Carvalho, A flor que havia na água parada,Europa América.
Fotografia feita na Carrasqueira em 18 de novembro de 2011
Debate sobre Violência Doméstica
A Dra. Adélia Silva falou do papel da Comissão de Proteção de Crianças e Jovens (CPCJ) enquanto instituição oficial não judiciária com autonomia funcional e que visa promover os direitos da criança e do jovem e prevenir ou pôr termo a situações que ponham em causa a sua segurança, saúde, formação, educação ou desenvolvimento integral.
Salientou a relação entre a violência doméstica e as crianças e jovens em risco, pois a disfuncionalidade familiar pode colocá-los em perigo, nomeadamente, se sofrerem maus tratos físicos ou psíquicos ou se forem vítimas de abusos sexuais. Por outro lado, ao serem expostos a comportamentos que afetam gravemente a sua estabilidade emocional e o seu desenvolvimento podem assumir comportamentos desviantes.
Referiu que a intervenção para a promoção dos direitos e proteção da criança e do jovem em perigo obedece a determinadas regras tais como: atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança ou do jovem; privacidade, toda a defesa dos seus direitos é feita tendo em conta o respeito pela sua intimidade e pela reserva da sua vida privada e a necessidade de intervenção precoce, esta deve ser acionada mal a situação de perigo seja conhecida.
Focou várias vezes a importância do anonimato e relembrou: o silêncio é um aliado do agressor e quanto mais precoce for a intervenção maior é a possibilidade de proteger a criança ou o jovem.
Salientou a relação entre a violência doméstica e as crianças e jovens em risco, pois a disfuncionalidade familiar pode colocá-los em perigo, nomeadamente, se sofrerem maus tratos físicos ou psíquicos ou se forem vítimas de abusos sexuais. Por outro lado, ao serem expostos a comportamentos que afetam gravemente a sua estabilidade emocional e o seu desenvolvimento podem assumir comportamentos desviantes.
Referiu que a intervenção para a promoção dos direitos e proteção da criança e do jovem em perigo obedece a determinadas regras tais como: atender prioritariamente aos interesses e direitos da criança ou do jovem; privacidade, toda a defesa dos seus direitos é feita tendo em conta o respeito pela sua intimidade e pela reserva da sua vida privada e a necessidade de intervenção precoce, esta deve ser acionada mal a situação de perigo seja conhecida.
Focou várias vezes a importância do anonimato e relembrou: o silêncio é um aliado do agressor e quanto mais precoce for a intervenção maior é a possibilidade de proteger a criança ou o jovem.
domingo, 22 de abril de 2012
Violência sobre Crianças
A Linha da Criança foi criada em 1993, para acolher as queixas relativas a menores que se encontram em situação de risco ou perigo. Em relação a 2010, o serviço registou menos 53 chamadas. De Janeiro a 17 de Abril deste ano, já recebeu 216 pedidos, 64 dos quais relativos às responsabilidades parentais, o assunto que desde sempre tem motivado o maior número de pedidos, segundo dados avançados da Provedoria de Justiça.
Dezasseis chamadas recebidas este ano estavam relacionadas com situações de negligência, 15 devido a maus tratos físicos e psíquicos e 12 relativos à actuação das comissões de protecção de crianças e jovens (CPCJ). Em 2011, 30 chamadas foram motivadas por carências económicas, uma situação que levou cinco pessoas a pedir ajuda já este ano à linha gratuita do provedor de justiça (800206656).
Também o serviço de apoio à criança (SOS-Criança) tem registado um acréscimo no número de pessoas que ligam devido a dificuldades económicas, tendo assinalado, em 2011, 19 pedidos relacionados com a pobreza e 24 com a mendicidade.
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sábado, 14 de abril de 2012
Debate sobre Violência Doméstica
A Guarda Sandra Rafael explicou a essência do projeto NIAVE (Núcleo de Investigação e de Apoio a Vitimas Específicas), isto é, referiu ser este um projeto da Guarda Nacional Republicana, que tem como objetivo geral qualificar o tratamento das matérias relacionadas com as problemáticas das violências cometidas essencialmente sobre as mulheres, as crianças e outros grupos específicos de vítimas.
O projeto pretende dar resposta tanto ao nível da prevenção, sensibilização de operacionais e população em geral, como da investigação criminal.
O NIAVE atua em três frentes: a nível Policial com a sinalização, identificação e acompanhamento de situações e o atendimento especializado e personalizado às vítimas; a nível Processual Penal procede às investigações e propõe as medidas adequadas à proteção das vítimas; a nível Psicossocial faz o encaminhamento das vítimas (e, em certos casos, dos agressores), no âmbito das redes de apoio social, o acompanhamento integrado das situações de violência e a participação ativa no estudo e nos processos preventivos do fenómeno.
Relembrou que a Violência Doméstica é crime público ao qual devemos estar atentos e deixou os contactos para os quais as vítimas devem ligar.
Fotografia feita pela aluna Carolina Resende do 11ºA
O projeto pretende dar resposta tanto ao nível da prevenção, sensibilização de operacionais e população em geral, como da investigação criminal.
O NIAVE atua em três frentes: a nível Policial com a sinalização, identificação e acompanhamento de situações e o atendimento especializado e personalizado às vítimas; a nível Processual Penal procede às investigações e propõe as medidas adequadas à proteção das vítimas; a nível Psicossocial faz o encaminhamento das vítimas (e, em certos casos, dos agressores), no âmbito das redes de apoio social, o acompanhamento integrado das situações de violência e a participação ativa no estudo e nos processos preventivos do fenómeno.
Relembrou que a Violência Doméstica é crime público ao qual devemos estar atentos e deixou os contactos para os quais as vítimas devem ligar.
Fotografia feita pela aluna Carolina Resende do 11ºA
sexta-feira, 13 de abril de 2012
No Meio do Caminho
No meio do caminho tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
Tinha uma pedra
No meio do caminho tinha uma pedra.
Nunca me esquecerei desse acontecimento
Na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
Tinha uma pedra
Tinha uma pedra no meio do caminho
No meio do caminho tinha uma pedra.
Carlos Drummond de Andrade
Fotografia feita no Pessegueiro em 11-01-12
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