terça-feira, 19 de novembro de 2013
quarta-feira, 13 de novembro de 2013
terça-feira, 29 de outubro de 2013
quarta-feira, 23 de outubro de 2013
quarta-feira, 16 de outubro de 2013
terça-feira, 15 de outubro de 2013
sexta-feira, 4 de outubro de 2013
terça-feira, 10 de setembro de 2013
quarta-feira, 19 de junho de 2013
terça-feira, 21 de maio de 2013
sábado, 18 de maio de 2013
quarta-feira, 15 de maio de 2013
sábado, 11 de maio de 2013
terça-feira, 7 de maio de 2013
quarta-feira, 1 de maio de 2013
terça-feira, 30 de abril de 2013
domingo, 28 de abril de 2013
sábado, 27 de abril de 2013
A maior felicidade do maior número
Bentham teve o cuidado
de sublinhar que prazer era a sensação
que podia ser causada não só pela comida, pela bebida e pelo sexo, mas também
por uma multiplicidade de outras coisas, tão variadas entre si como adquirir
riqueza, tratar os animais com brandura ou acreditar na benevolência de um Ser
Supremo. Assim, os críticos que consideraram o hedonismo de Bentham um apelo à
sensualidade estavam redondamente enganados. Todavia, enquanto para um pensador
como Aristóteles o prazer era identificado com a atividade usufruída, para
Bentham, a relação entre uma atividade e o prazer dela obtido era de causa e
efeito. Enquanto para Aristóteles o valor de um prazer era idêntico ao valor da
atividade usufruída, para Bentham todos os prazeres tinham o mesmo valor,
independentemente do que quer que causasse cada um deles. «Se a quantidade de
prazer for a mesma», escreveu, «o jogo dos alfinetes tem tanto valor como a
poesia.» e o que é dito do prazer vale igualmente para a dor; a medida do
desvalor da dor consiste na quantidade de dor, e não naquilo que a causa.
A quantificação de
prazer e de dor são, assim, da maior importância para o utilitarista: na
decisão por uma dada ação ou política, é necessário calcular a quantidade de
prazer e a quantidade de sofrimento que é plausível que dela se siga. Bentham estava
ciente de que estabelecer tais quantificações não era tarefa de somenos, pelo
que indicou alguns preceitos para a medição de prazeres e sofrimentos. O prazer
A vale mais do que o prazer B se A for intenso, ou duradouro, ou se for mais
certo que vá acontecer, ou mais imediato. No «cálculo da felicidade», estes
diferentes fatores têm de ser tidos em conta, e pesados uns em relação aos
outros.
Anthony Kenny, Nova História da Filosofia Ocidental, Volume
4, Filosofia no Mundo Moderno,
tradução de Cristina Carvalho, Gradiva, (2011), p. 242
sexta-feira, 26 de abril de 2013
De Tarde
Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampamos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia
Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!
Cesário Verde
Foto feita na Estrada de S. Domingos em 21-04-13
quarta-feira, 24 de abril de 2013
terça-feira, 23 de abril de 2013
quarta-feira, 17 de abril de 2013
sexta-feira, 12 de abril de 2013
quinta-feira, 11 de abril de 2013
A maior felicidade do maior número
A felicidade é, na maioria dos sistemas morais, um conceito de grande importância. Uma longa série de filósofos morais, que se consideravam herdeiros da tradição iniciada por Platão e Aristóteles, entendeu a felicidade como bem supremo, e alguns eticistas chegaram ao ponto de afirmar que os seres humanos procuram a felicidade em todas as suas escolhas. Ao desafiar o primado da felicidade, Kant teve uma posição incomum. Em Fundamentação da Metafísica dos Costumes, proclamou que o motivo ético supremo era o dever, não a felicidade. Assim, à primeira vista, quando Bentham declarou que toda a ação devia ser avaliada de acordo com a tendência que aparenta ter para aumentar ou diminuir a felicidade, tudo levaria a crer que estivesse apenas a reafirmar um consenso de longa data. Contudo, numa análise mais atenta, o princípio da maior felicidade de Bentham revela-se muito diferente do eudemonismo tradicional.
Em primeiro lugar, Bentham identifica a felicidade com o prazer: é o prazer que é o impulsionador supremo da ação. O famoso início de Uma Introdução aos Princípios da Moral e da Legislação diz:
A Natureza colocou o Homem sob a regência de dois amos soberanos, a dor e o prazer. É a eles, e somente a eles, que compete indicar o que devemos fazer, bem como determinar o que de facto faremos. O padrão do certo e do errado, de um lado, e a cadeia de causas e efeitos, do outro, estão presos ao trono deles. Estes amos regem-nos em tudo o que fazemos, tudo o que pensamos: qualquer esforço que façamos para nos vermos livres desta sujeição servirá apenas para a demonstrar e confirmar. (P.1.1)
Deste modo, maximizar a felicidade é, para Bentham, a mesma coisa que maximizar o prazer. Os utilitaristas poderiam citar Platão como seu percursor, uma vez que, no Protágoras, Platão põe a discussão a tese de que a virtude consiste na escolha correta de prazer e sofrimento. Aristóteles, por outro lado, distinguiu entre felicidade e prazer, recusando-se a identificar a felicidade com os prazeres sensitivos. Bentham, pelo contrário, não só tratou a felicidade como equivalente ao prazer, como encarou o próprio prazer como sendo simplesmente uma sensação. «Nesta matéria não há refinamento algum, metafísica alguma. Não é necessário consultar Platão ou Aristóteles. Dor e prazer são aquilo que toda a gente sente com tal.»
Anthony Kenny, Nova História da Filosofia Ocidental, Volume 4, Filosofia no Mundo Moderno, tradução de Cristina Carvalho, Gradiva, (2011)
terça-feira, 9 de abril de 2013
segunda-feira, 8 de abril de 2013
domingo, 7 de abril de 2013
quarta-feira, 3 de abril de 2013
domingo, 31 de março de 2013
quinta-feira, 28 de março de 2013
sábado, 16 de março de 2013
quinta-feira, 14 de março de 2013
sábado, 9 de março de 2013
sábado, 2 de março de 2013
segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
sábado, 23 de fevereiro de 2013
sábado, 16 de fevereiro de 2013
sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013
Isto não é (Só) Matemática
A matemática nunca foi fácil. Pelo menos, era o que se dizia! Um papão para muitos; um enorme desafio para outros! A matemática é, porém, a base de qualquer ciência e a sua compreensão é uma enorme vantagem para o nosso quotidiano. O texto apresenta-se como uma série de episódios, pequenos contos, alguns de drama intenso, outros de ação, outros de comédia quotidiana. No conjunto relatam uma das aventuras mais extraordinárias na evolução humana, quer intelectual, quer social, quer tecnológica. É uma viagem que tem a pretensão de conseguir mudar a forma como o leitor vê o Mundo, ou pelo menos parte substancial dele.
Um livro de contos, de divulgação científica, banda desenhada ou um livro académico? Definitivamente, tudo isso. A matemática como nunca a viu!
«[Os Aibéos] conseguiram dar uma estranha espécie de sex-appeal à matemática mas, mais importante que isso, são pessoas inteligentes que perceberam que pelo humor é que vamos.»
Do prefácio de Nuno Markl
Ver aqui
quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013
A teoria política de John Locke
Antes de haver estados capazes de promulgar leis, defende Locke, os homens têm consciência da existência de uma lei natural, que os ensina que todos os homens são iguais e independentes e que ninguém deve prejudicar outra pessoa na sua vida, saúde, liberdade ou propriedade. Estes homens, que não têm na Terra ninguém que lhes seja superior, encontram-se num estado de liberdade, mas não num estado de indisciplina. Além de estarem obrigados pela lei natural, os seres humanos possuem direitos naturais, em particular o direito à vida, à autodefesa e à liberdade. Também têm deveres, em particular o de não prescindirem dos seus direitos.
Um direito natural significativo é o direito de propriedade. Deus não confere propriedades particulares a indivíduos particulares, mas a existência de um sistema de propriedade privada faz parte dos planos de Deus para o mundo. No estado de natureza, as pessoas adquirem propriedade "misturando o seu labor" com os bens naturais, recolhendo água, apanhando frutos ou lavrando a terra. Locke considerava haver um direito natural, não apenas de adquirir, mas também de herdar propriedade privada.
Kenny
Retirado de História Concisa da Filosofia Ocidental, de Anthony Kenny. Trad. Desidério Murcho, Fernando Martinho, Maria José Figueiredo, Pedro Santos e Rui Cabral (Temas e Debates, 1999).
domingo, 10 de fevereiro de 2013
O problema da justificação do estado
Pensa por momentos na tua própria sujeição política. Estás continuamente a ser sujeito a regras de que não és o autor — designadas por "leis" — que te governam não apenas a ti mas aos outros, que impõe, por exemplo, a velocidade a que deves andar na autoestrada, o comportamento que deves ter em público, que tipo de ações para com os outros são permissíveis, que objetos contam como "teus" ou "deles", e assim sucessivamente. Estas regras são impostas por determinadas pessoas que seguem as diretivas daqueles que as criaram definindo também punições para o caso de não serem cumpridas. Sabes ainda que se não obedeceres a estas regras, é bastante provável que sofras consequências indesejáveis, que podem ir de pequenas multas à prisão e até (em certas sociedades) à morte.
A sensação que tens quando és governado é a de que não és subjugado nem coagido. Se não aprovamos que um homem aponte uma arma à tua cabeça e que exige que lhe dês o teu dinheiro, então por que havemos de aprovar que qualquer grupo ameace recorrer a multas, ou à prisão, ou à pena de morte para que te comportes de uma certa forma, ou para que lhe dês o teu dinheiro (a que chamam "impostos") ou para que lutes em guerras que eles provocaram? Será esta sujeição realmente permissível de um ponto de vista moral, especialmente porque os seres humanos precisam de liberdade para se aperfeiçoarem?
Jean Hampton
Tradução e adaptação de Vítor João Oliveira
Retirado de Political Philosophy, de Jean Hampton (Oxford: Westview Press, 1997, pp. 3–6)
Quadro: J. Duarte
sábado, 9 de fevereiro de 2013
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013
sábado, 2 de fevereiro de 2013
Será a ética apenas uma questão de convenções sociais?
(…) existe um padrão culturalmente neutro do certo e do errado e não é difícil dizer que padrão é esse. Afinal, a razão pela qual criticamos a violação e o apedrejamento não é a de estas ações serem «contrárias aos padrões americanos». Também não criticamos essas práticas por elas serem de algum modo más para nós. A razão pela qual fazemos a crítica é o facto de Mukhtar Mai e Amina Lawal estarem a ser maltratadas – as práticas sociais em questão são más, não para nós, mas para elas. Deste modo, o padrão culturalmente neutro é o da prática social em questão ser benéfica ou prejudicial para as pessoas que são afetadas por ela. As boas práticas sociais beneficiam as pessoas; as más práticas sociais prejudicam as pessoas.
Este critério é culturalmente neutro no sentido relevante. Em primeiro lugar, não implica um favoritismo por algumas culturas. Pode ser aplicado da mesma forma a todas as sociedades incluindo a nossa. Em segundo lugar, a fonte do princípio não reside no interior de uma cultura particular. Pelo contrário, o bem-estar dos seus membros é um valor intrínseco à vida de qualquer cultura viável. É um valor que tem de ser adotado em alguma medida e sem ele uma cultura não existe. É uma condição prévia da cultura, e não uma norma contingente que surge nela. É por esta razão que nenhuma sociedade pode considerar irrelevante este tipo de crítica. A sugestão de que uma prática prejudica as pessoas nunca pode ser afastada com a alegação de que constitui um padrão estranho «trazido de fora» para julgar as práticas de uma cultura.
James Rachels, Problemas da Filosofia, Tradução de Pedro Galvão, Gradiva, 2009, pp. 243-244
Será a ética apenas uma questão de convenções sociais?
Numa aldeia paquistanesa, um rapaz de doze anos foi acusado de ter uma relação amorosa com uma mulher de vinte e dois que pertencia a uma classe social superior. Negou a acusação, mas os anciões tribais não acreditaram nele. Como castigo, decretaram que a irmã adolescente do rapaz – que nada fizera de errado – fosse violada publicamente. O seu nome é Mukhtar Mai. Quatro homens executaram a sentença enquanto os habitantes da aldeia assistiam. Os observadores disseram que isto nada tinha de invulgar, mas, com tantos estrangeiros na região, o incidente foi noticiado e descrito na Newsweek.
No Norte da Nigéria, um tribunal religioso condenou uma mulher solteira chamada Amina Lawal ao apedrejamento até à morte por ter tido relações sexuais fora do casamento. As sessenta pessoas que estavam no tribunal gritaram a sua aprovação. O juiz disse que a sentença devia ser executada logo que o bebé deixasse de precisar de leite materno. A mulher identificou o pai, mas ele negou essa alegação e não o acusaram de nada. Esta foi apenas uma de várias sentenças do mesmo tipo que aí foram impostas recentemente. Reagindo à pressão internacional, o governo nigeriano anunciou que não faria executar a sentença de Amina Lawal, mas receou-se que os responsáveis pela ordem local levassem a cabo o apedrejamento. Ela passou a viver escondida.
A violação de Mukhtar Mai parece ter sido uma questão de honra tribal. O seu irmão tinha alegadamente uma relação amorosa com uma mulher de uma tribo diferente e os anciões da sua tribo exigiam justiça. Os apedrejamentos na Nigéria, pelo contrário, são a aplicação da lei islâmica da Charia, que foi adotada por doze estados nigerianos desde 1999. Ambas as ações parecem horríveis. Condenamo-las instintivamente. Mas teremos uma justificação para dizer que a violação e o apedrejamento são errados?
James Rachels, Problemas da Filosofia, Tradução de Pedro Galvão, Gradiva, 2009, pp. 238-239
quinta-feira, 31 de janeiro de 2013
sábado, 26 de janeiro de 2013
Poderá alguma vez a violação da lei ser moralmente aceitável?
Algumas pessoas argumentam que a violação da lei nunca se pode justificar: se não estamos satisfeitos com a lei devemos tentar mudá-la através dos meios legais, como as campanhas, a redação de cartas, etc. Mas há muitos casos em que tais protestos legais são completamente inúteis. Há uma tradição de violação da lei em tais circunstâncias conhecida por desobediência civil. A ocasião para a desobediência civil emerge quando as pessoas descobrem que lhes é pedido que obedeçam a leis ou a políticas governamentais que consideram injustas.
A desobediência civil trouxe mudanças importantes no direito e na governação. Um exemplo famoso é o movimento das sufragistas britânicas, que conseguiu publicitar o seu objetivo de dar o voto às mulheres através de uma campanha de desobediência civil pública que incluía o auto-acorrentamento das manifestantes. A emancipação limitada foi finalmente alcançada em 1918, quando foi permitido o voto às mulheres com mais de 30 anos, em parte devido ao impacte da primeira guerra mundial. No entanto, o movimento das sufragistas desempenhou um papel significativo na mudança da lei injusta que impedia as mulheres de participar em eleições supostamente democráticas.
Gandi e Martin Luther King foram ambos defensores apaixonados da desobediência civil. Gandi influenciou decisivamente a independência indiana através do protesto ilegal não violento, que acabou por conduzir ao fim da soberania britânica na Índia; o desafio de Martin Luther King ao preconceito racial através de métodos análogos ajudou a garantir direitos civis básicos para os Negros americanos nos estados americanos do Sul.
Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, tradução Desidério Murcho, Gradiva, 1998, pp. 132-133
sexta-feira, 25 de janeiro de 2013
Ética
A ética filosófica ou filosofia moral (os termos «ética» e «moral» serão usados aqui indistintamente) divide-se em duas áreas principais: a metaética e a ética normativa. Na ética normativa discutem-se questões substanciais sobre aquilo que se deve fazer e aquilo que é bom e valioso. A metaética investiga a natureza desse tipo de discussão, ocupando-se de problemas metafísicos, epistemológicos e semânticos suscitados pela ética. Se duas pessoas discordam a respeito de problemas de saber se mentir é sempre errado, têm um desacordo enquadrável na ética normativa. Mas terão um desacordo metaético se divergirem quanto à existência de uma resposta objetiva para esse problema, quanto à possibilidade de o resolver por meios empíricos ou quanto ao tipo de estado mental que alguém exprime ao dizer «Mentir é sempre errado».
Pedro Galvão, Filosofia, Uma Introdução por Disciplinas, Edições 70, 2012, p. 143
terça-feira, 22 de janeiro de 2013
O castigo como retribuição
Na sua forma mais simples, o retributivismo é a perspetiva segundo a qual aqueles que violam a lei merecem o seu castigo, independentemente de existirem ou não na sociedade quaisquer consequências benéficas para eles ou para a sociedade. Aqueles que violaram intencionalmente a lei merecem sofrer. Existem claramente muitas pessoas que não podem ser completamente responsáveis pela sua própria violação da lei, pelo que merecem um castigo mais moderado ou até, em casos extremos, tratamento, tal como acontece com os doentes mentais graves. Contudo, em geral, de acordo com uma teoria retributivista, o castigo justifica-se como uma resposta adequada à violação da lei. Além disso, a severidade do castigo deve refletir a severidade do crime. Na sua forma mais simples («olho por olho», por vezes conhecida como lex talionis) , o retributivismo exige uma resposta exatamente proporcional ao crime cometido. Em alguns crimes, como a chantagem, é difícil ver o que seria uma resposta adequada: não se pode esperar que o juiz condene o chantagista a seis meses de chantagem. Analogamente, é difícil de perceber como poderia punir-se de forma exatamente proporcional um pobre que tivesse roubado um relógio de ouro. Isto só constitui um problema para o princípio do olho por olho; com formas mais sofisticadas de retributivismo, o castigo não tem de espelhar o crime.
Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, tradução Desidério Murcho, Gradiva, 1998, pp. 125-126
segunda-feira, 21 de janeiro de 2013
sexta-feira, 18 de janeiro de 2013
quinta-feira, 17 de janeiro de 2013
Subtrair a liberdade: o castigo
O que pode justificar que se subtraia a liberdade a alguém como uma forma de castigo? Por outras palavras, que razões podem dar-se para se exercer a coerção sobre pessoas, tirando-lhe a liberdade no sentido negativo? (…)
Os filósofos têm tentado justificar o castigo estatal de pessoas com base em quatro ideias principais: retribuição, dissuasão, proteção da sociedade e reabilitação da pessoa que sofre o castigo. A primeira é habitualmente defendida a partir de uma posição deontológica; as outras três são tipicamente defendidas com argumentos consequencialistas.
Nigel Warburton, Elementos Básicos de Filosofia, Tradução Desidério Murcho, Gradiva, Lisboa, 1998, p. 125
segunda-feira, 14 de janeiro de 2013
domingo, 13 de janeiro de 2013
sábado, 12 de janeiro de 2013
Relativismo Cultural
O relativismo cultural, como tem sido chamado, desafia a nossa crença habitual na objetividade e universalidade da verdade moral. Afirma, com efeito, que não existe verdade universal em ética; existem apenas os vários códigos morais e nada mais. Além disso, o nosso próprio código moral não tem um estatuto especial; é apenas um entre muitos. Como veremos, esta ideia de base é na realidade um conjunto de vários pensamentos diferentes. É importante separar os vários elementos da teoria porque, durante a análise, algumas partes revelam-se corretas enquanto outras parecem estar erradas. Para começar, podemos distinguir as seguintes afirmações, todas elas apresentadas por relativistas culturais:
1. Sociedades diferentes têm códigos morais diferentes;
2. O código moral de uma sociedade determina o que é correto no seio dessa sociedade, isto é, se o código moral de uma sociedade afirma que certa ação é correta, então essa ação é correta, pelo menos nessa sociedade;
3. Não há qualquer padrão objetivo que se possa usar para ajuizar um código social como melhor do que outro;
4. O código moral da nossa própria sociedade não tem estatuto especial, é apenas um entre muitos;
5. Não há uma «verdade universal» em ética, isto é, não há verdades morais aceites por todos os povos em todos os tempos;
6. É mera arrogância nossa tentar julgar a conduta de outros povos. Deveríamos adotar uma atitude de tolerância face às práticas de outras culturas.
Apesar de poder parecer que estas seis proposições fazem naturalmente parte de um todo, são independentes umas das outras, na medida em que algumas podem ser falsas ainda que outras sejam verdadeiras.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 36-37
sexta-feira, 11 de janeiro de 2013
Relativismo Cultural
Esta observação - «culturas diferentes têm códigos morais diferentes» - pareceu a muitos pensadores ser a chave para compreender a moralidade. A ideia de verdade universal em ética, afirmam, é um mito. Tudo quanto existe são os costumes de sociedades diferentes. Não se pode dizer que estes costumes estão «corretos» ou «incorretos», pois isso implicaria ter um padrão independente de certo e errado pelo qual poderíamos julgá-los. Mas tal padrão não existe; todos os padrões são determinados por uma cultura.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 35-36
quinta-feira, 10 de janeiro de 2013
domingo, 6 de janeiro de 2013
sábado, 5 de janeiro de 2013
A IMAGEM ROMÂNTICA
Há outras coisas, Horácio,/
e a tua filosofia é barata,/
na verdade não custa fixar/
as coisas ideais à distância:/
terás vista panorâmica/
mas sempre a visão é polémica./
Gostava que alguém me mostrasse,/
mas não terei nunca garantia/
de que envelhecer faça sentido./
As pessoas prostram-se, queremos que nos digam/
porquê não haver luz nos seus rostos. Crestam/
os cravos, antes rubros. Não há modo/
de saber se as monarcas/
têm memórias arenosas de lagarta./
Tudo sucede dentro de estanques/
casulos, a seda é densa,/
não se faz ideia/
se isto acaba. Estrelas foscas/
correm, pessoas morrem, a vida/
é breve, impávido o/
real se esquiva a designar./
Comparar é colidir: o verbo/
talvez nos leve/
a mais nenhum sinal.
Margarida Vale de Gato, Mulher ao Mar, Mariposa Azual, 2010
sexta-feira, 4 de janeiro de 2013
Adeus Liberdade. Viva a Liberdade!
Não é raro uma cultura associar o seu mito fundador a uma derrota. E poucas derrotas terão tanto significado para a cultura ocidental como a de Termópilas, o desfiladeiro onde um punhado de gregos resistiu heroicamente ao rolo compressor do maior exército desse tempo, o do imperador persa Xerxes. Foi há quase 2500 anos e a luta determinada que os gregos então travaram, e de que acabariam por sair vitoriosos, foi associada por Heródoto, o primeiro dos historiadores, à luta pela liberdade. “Os gregos querem permanecer livres. Eles só obedecem à lei, não aos comandos de outros homens”, terá dito um emissário grego ao imperador Xerxes, cabeça de um império centralizado e despótico. O preço dessa liberdade, como se comprovou em Termópilas, era elevado, mas “os gregos amam a liberdade sob a lei e vão combater por ela”, como disse o emissário.
Cinquenta anos depois, um outro historiador, Tucídides, colocaria na boca de Péricles, o líder de Atenas no seu século de glória, o elogio do governo da “coisa pública em liberdade”. Na oração fúnebre aos soldados que haviam morrido pela sua cidade, elogiou os que, “graças ao seu esforço”, haviam legado à posteridade aquelas terras “livres”. E foi mais longe. Disse que “felicidade é liberdade e liberdade é coragem”, o que faz com que não se hesite mesmo “perante os perigos da guerra”.
É nestas raízes antigas que o Ocidente funda a sua tradição de Liberdade. Tal como a funda na sua expressão moderna que foi formalizada pela primeira vez na Declaração de Independência dos Estados Unidos, onde se invocam os “direitos inalienáveis, entre os quais se contam a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade”.
José Manuel Fernandes, XXI Ter Opinião 2013, Fundação Francisco Manuel dos Santos, pag.1
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013
quarta-feira, 2 de janeiro de 2013
O mar das maravilhas e dos demónios
Com o objetivo de explicar a origem do mundo, as antigas cosmogonias e as suas narrativas mitológicas elaboradas no contexto da bacia mediterrânica (Mare Nostrum) procuraram sempre personificar e incluir o elemento aquático de uma forma bastante diversificada. Assim, na Teogonia de Hesíodo encontra-se uma explicação para o aparecimento das diferentes entidades marinhas:
A Terra gerou, em primeiro lugar, um ser de dimensão semelhante à sua,
O Céu, coberto de estrelas, para que a cobrisse, toda inteira,
e fosse dos deuses bem-aventurados a eterna e segura mansão.
Ninfas que habitam as montanhas recortadas.
E deu ainda à luz o mar estéril onde se encrespavam as ondas,
Ponto. Todos eles nasceram sem intervenção do amor. Depois,
fecundada pelo Céu, deu à luz o Oceano de correntes profundas…
Todas estas formas elementares da Natureza, que não tinham ainda o estatuto de divindades, não tardaram, por sua vez, a trazer ao mundo uma numerosa descendência e, por exemplo, Tétis e Oceano geraram três mil cursos de água e rios divinos. Estes cursos de água são atualmente menos conhecidos do que os filhos dos primeiros deuses, esses anfitriões do Olimpo, tal como o filho de Cronos e de Reia, Poséidon. As suas numerosas aventuras galantes povoaram rios, ribeiros, fontes e lagos com divindades, destacando-se as Nereidas, e entre estas Galateia, cujas formas se confundem por vezes com as das tentadoras e impiedosas sereias. Assim, provavelmente as lendas atribuídas a Hesíodo davam, mais ou menos fielmente, corpo a séculos de experiência e especulações religiosas e literárias, formalizando o misterioso imaginário marinho, incomensurável, insondável e imprevisível, mas também útil, generoso e sobretudo grandioso e magnífico.
Todo este mundo divino interveio nas aventuras dos homens e dos heróis em peripécias que serão narradas, com deleite, por Homero na Ilíada ou na Odisseia. Este destino poderá aparecer não só como representação alegórica, mas também como protagonista de numerosos episódios que serão retomados e enriquecerão outros textos posteriores. Podem estes ser religiosos, como no Antigo e novo Testamento, ou épicos, na origem das identidades nacionais – tais como La Franciade de Ronsard, de 1572, ou Os Lusíadas de Luís de Camões, no mesmo ano, contemporâneos das traduções dos grandes textos antigos, antes dos romances de aventuras, fundadores de mitos modernos, que surgiram a partir do século XVIII, como Robinson Crusoé de Daniel Defoe até A Ilha do Dia Anterior de Umberto Eco.
Dominique Lobstein, As Idades do Mar, Fundação Calouste Gulbenkian, 2012, pp. 39-40
Quadro: A Sereia, 1893, de Giulio Aristide Sartorio
A conceção mínima de moralidade
A conceção mínima pode agora ser apresentada de forma breve: a moralidade é, pelo menos, o esforço para orientar a nossa conduta pela razão – isto é, para fazer aquilo a favor do qual existem melhores razões – dando simultaneamente a mesma importância aos interesses de cada indivíduo que será afetado por aquilo que fazemos.
Isto oferece, entre outras coisas, uma imagem do que significa ser um agente moral consciente. O agente moral consciencioso é alguém preocupado imparcialmente com os interesses de quantos são afetados por aquilo que ele, ou ela, fazem; alguém que cuidadosamente filtra os factos e examina as suas implicações; que aceita princípios de conduta somente depois de os examinar, para ter a certeza de que são sólidos; que está disposto a «dar ouvidos à razão» mesmo quando isso significa ter de rever convicções prévias; alguém que, por fim, está disposto a agir com base nos resultados da sua deliberação.
James Rachels, Elementos de Filosofia Moral, Tradução F.J. Azevedo Gonçalves, Gradiva, Lisboa, 2004, pp. 31-32
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