Bentham teve o cuidado
de sublinhar que prazer era a sensação
que podia ser causada não só pela comida, pela bebida e pelo sexo, mas também
por uma multiplicidade de outras coisas, tão variadas entre si como adquirir
riqueza, tratar os animais com brandura ou acreditar na benevolência de um Ser
Supremo. Assim, os críticos que consideraram o hedonismo de Bentham um apelo à
sensualidade estavam redondamente enganados. Todavia, enquanto para um pensador
como Aristóteles o prazer era identificado com a atividade usufruída, para
Bentham, a relação entre uma atividade e o prazer dela obtido era de causa e
efeito. Enquanto para Aristóteles o valor de um prazer era idêntico ao valor da
atividade usufruída, para Bentham todos os prazeres tinham o mesmo valor,
independentemente do que quer que causasse cada um deles. «Se a quantidade de
prazer for a mesma», escreveu, «o jogo dos alfinetes tem tanto valor como a
poesia.» e o que é dito do prazer vale igualmente para a dor; a medida do
desvalor da dor consiste na quantidade de dor, e não naquilo que a causa.
A quantificação de
prazer e de dor são, assim, da maior importância para o utilitarista: na
decisão por uma dada ação ou política, é necessário calcular a quantidade de
prazer e a quantidade de sofrimento que é plausível que dela se siga. Bentham estava
ciente de que estabelecer tais quantificações não era tarefa de somenos, pelo
que indicou alguns preceitos para a medição de prazeres e sofrimentos. O prazer
A vale mais do que o prazer B se A for intenso, ou duradouro, ou se for mais
certo que vá acontecer, ou mais imediato. No «cálculo da felicidade», estes
diferentes fatores têm de ser tidos em conta, e pesados uns em relação aos
outros.
Anthony Kenny, Nova História da Filosofia Ocidental, Volume
4, Filosofia no Mundo Moderno,
tradução de Cristina Carvalho, Gradiva, (2011), p. 242
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