sábado, 27 de abril de 2013

A maior felicidade do maior número


Bentham teve o cuidado de sublinhar que  prazer era a sensação que podia ser causada não só pela comida, pela bebida e pelo sexo, mas também por uma multiplicidade de outras coisas, tão variadas entre si como adquirir riqueza, tratar os animais com brandura ou acreditar na benevolência de um Ser Supremo. Assim, os críticos que consideraram o hedonismo de Bentham um apelo à sensualidade estavam redondamente enganados. Todavia, enquanto para um pensador como Aristóteles o prazer era identificado com a atividade usufruída, para Bentham, a relação entre uma atividade e o prazer dela obtido era de causa e efeito. Enquanto para Aristóteles o valor de um prazer era idêntico ao valor da atividade usufruída, para Bentham todos os prazeres tinham o mesmo valor, independentemente do que quer que causasse cada um deles. «Se a quantidade de prazer for a mesma», escreveu, «o jogo dos alfinetes tem tanto valor como a poesia.» e o que é dito do prazer vale igualmente para a dor; a medida do desvalor da dor consiste na quantidade de dor, e não naquilo que a causa.
A quantificação de prazer e de dor são, assim, da maior importância para o utilitarista: na decisão por uma dada ação ou política, é necessário calcular a quantidade de prazer e a quantidade de sofrimento que é plausível que dela se siga. Bentham estava ciente de que estabelecer tais quantificações não era tarefa de somenos, pelo que indicou alguns preceitos para a medição de prazeres e sofrimentos. O prazer A vale mais do que o prazer B se A for intenso, ou duradouro, ou se for mais certo que vá acontecer, ou mais imediato. No «cálculo da felicidade», estes diferentes fatores têm de ser tidos em conta, e pesados uns em relação aos outros.

Anthony Kenny, Nova História da Filosofia Ocidental, Volume 4, Filosofia no Mundo Moderno, tradução de Cristina Carvalho, Gradiva, (2011), p. 242

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