Numa aldeia paquistanesa, um rapaz de doze anos foi acusado de ter uma relação amorosa com uma mulher de vinte e dois que pertencia a uma classe social superior. Negou a acusação, mas os anciões tribais não acreditaram nele. Como castigo, decretaram que a irmã adolescente do rapaz – que nada fizera de errado – fosse violada publicamente. O seu nome é Mukhtar Mai. Quatro homens executaram a sentença enquanto os habitantes da aldeia assistiam. Os observadores disseram que isto nada tinha de invulgar, mas, com tantos estrangeiros na região, o incidente foi noticiado e descrito na Newsweek.
No Norte da Nigéria, um tribunal religioso condenou uma mulher solteira chamada Amina Lawal ao apedrejamento até à morte por ter tido relações sexuais fora do casamento. As sessenta pessoas que estavam no tribunal gritaram a sua aprovação. O juiz disse que a sentença devia ser executada logo que o bebé deixasse de precisar de leite materno. A mulher identificou o pai, mas ele negou essa alegação e não o acusaram de nada. Esta foi apenas uma de várias sentenças do mesmo tipo que aí foram impostas recentemente. Reagindo à pressão internacional, o governo nigeriano anunciou que não faria executar a sentença de Amina Lawal, mas receou-se que os responsáveis pela ordem local levassem a cabo o apedrejamento. Ela passou a viver escondida.
A violação de Mukhtar Mai parece ter sido uma questão de honra tribal. O seu irmão tinha alegadamente uma relação amorosa com uma mulher de uma tribo diferente e os anciões da sua tribo exigiam justiça. Os apedrejamentos na Nigéria, pelo contrário, são a aplicação da lei islâmica da Charia, que foi adotada por doze estados nigerianos desde 1999. Ambas as ações parecem horríveis. Condenamo-las instintivamente. Mas teremos uma justificação para dizer que a violação e o apedrejamento são errados?
James Rachels, Problemas da Filosofia, Tradução de Pedro Galvão, Gradiva, 2009, pp. 238-239
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