Não é raro uma cultura associar o seu mito fundador a uma derrota. E poucas derrotas terão tanto significado para a cultura ocidental como a de Termópilas, o desfiladeiro onde um punhado de gregos resistiu heroicamente ao rolo compressor do maior exército desse tempo, o do imperador persa Xerxes. Foi há quase 2500 anos e a luta determinada que os gregos então travaram, e de que acabariam por sair vitoriosos, foi associada por Heródoto, o primeiro dos historiadores, à luta pela liberdade. “Os gregos querem permanecer livres. Eles só obedecem à lei, não aos comandos de outros homens”, terá dito um emissário grego ao imperador Xerxes, cabeça de um império centralizado e despótico. O preço dessa liberdade, como se comprovou em Termópilas, era elevado, mas “os gregos amam a liberdade sob a lei e vão combater por ela”, como disse o emissário.
Cinquenta anos depois, um outro historiador, Tucídides, colocaria na boca de Péricles, o líder de Atenas no seu século de glória, o elogio do governo da “coisa pública em liberdade”. Na oração fúnebre aos soldados que haviam morrido pela sua cidade, elogiou os que, “graças ao seu esforço”, haviam legado à posteridade aquelas terras “livres”. E foi mais longe. Disse que “felicidade é liberdade e liberdade é coragem”, o que faz com que não se hesite mesmo “perante os perigos da guerra”.
É nestas raízes antigas que o Ocidente funda a sua tradição de Liberdade. Tal como a funda na sua expressão moderna que foi formalizada pela primeira vez na Declaração de Independência dos Estados Unidos, onde se invocam os “direitos inalienáveis, entre os quais se contam a Vida, a Liberdade e a busca da Felicidade”.
José Manuel Fernandes, XXI Ter Opinião 2013, Fundação Francisco Manuel dos Santos, pag.1
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