sábado, 5 de janeiro de 2013

A IMAGEM ROMÂNTICA

Há outras coisas, Horácio,/ e a tua filosofia é barata,/ na verdade não custa fixar/ as coisas ideais à distância:/ terás vista panorâmica/ mas sempre a visão é polémica./ Gostava que alguém me mostrasse,/ mas não terei nunca garantia/ de que envelhecer faça sentido./ As pessoas prostram-se, queremos que nos digam/ porquê não haver luz nos seus rostos. Crestam/ os cravos, antes rubros. Não há modo/ de saber se as monarcas/ têm memórias arenosas de lagarta./ Tudo sucede dentro de estanques/ casulos, a seda é densa,/ não se faz ideia/ se isto acaba. Estrelas foscas/ correm, pessoas morrem, a vida/ é breve, impávido o/ real se esquiva a designar./ Comparar é colidir: o verbo/ talvez nos leve/ a mais nenhum sinal.
Margarida Vale de Gato, Mulher ao Mar, Mariposa Azual, 2010

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