Há outras coisas, Horácio,/
e a tua filosofia é barata,/
na verdade não custa fixar/
as coisas ideais à distância:/
terás vista panorâmica/
mas sempre a visão é polémica./
Gostava que alguém me mostrasse,/
mas não terei nunca garantia/
de que envelhecer faça sentido./
As pessoas prostram-se, queremos que nos digam/
porquê não haver luz nos seus rostos. Crestam/
os cravos, antes rubros. Não há modo/
de saber se as monarcas/
têm memórias arenosas de lagarta./
Tudo sucede dentro de estanques/
casulos, a seda é densa,/
não se faz ideia/
se isto acaba. Estrelas foscas/
correm, pessoas morrem, a vida/
é breve, impávido o/
real se esquiva a designar./
Comparar é colidir: o verbo/
talvez nos leve/
a mais nenhum sinal.
Margarida Vale de Gato, Mulher ao Mar, Mariposa Azual, 2010
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