quinta-feira, 21 de outubro de 2010
Todos nós distinguimos intuitivamente entre as coisas que fazemos e aquelas que nos acontecem. Nas coisas que fazemos há uma certa causalidade ou iniciativa que parte de nós. Naquelas que nos acontecem limitamo-nos a ser receptores de efeitos que nós não iniciámos.
Comprar uma cautela é algo que eu faço; que me saia a lotaria é algo que me acontece. Suicidar-me é algo que eu faço; morrer é algo que me acontece. Quando o ladrão me rouba a carteira, o roubo da minha carteira é algo que o ladrão realiza ou faz, mas é algo que a mim me acontece. A causa ou origem da acção está no gatuno, não em mim. Ele rouba-me, eu sou roubado.
A distinção entre a voz activa e a voz passiva dos verbos – comum a muitas línguas – reflecte esta dicotomia: acção e paixão, o que fazemos e o que nos acontece.
Entre as coisas que fazemos, fazemos umas voluntariamente, porque queremos fazê-las, enquanto outras fazemo-las sem querer.
Fazemos voluntária ou intencionalmente as coisas que fazemos querendo fazê-las, consciente e propositadamente. Em tais casos dizemos que temos a intenção ou o propósito de fazer o que fazemos.
E. Anscombe, Intención (Introdução à edição espanhola da Paidós)
Luís Rodrigues, Filosofia 10ºAno, Plátano Editora, 2007, p.71
Imagem: NIKO
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
Sem comentários:
Enviar um comentário