«É importante que
estejamos cientes da natureza radical da tese de Hume. Ele argumenta que todo o
raciocínio indutivo é inválido: não temos razões a priori ou empíricas para
aceitar crenças baseadas em inferências indutivas. Não temos justificação para
acreditar que o sol irá nascer amanhã. O ponto crucial é este: se eu afirmar
que o sol vai nascer amanhã e o meu amigo afirmar que ele se vai transformar
num ovo estrelado gigante, a minha crença não é, de acordo com Hume, mais
justificada do que a do meu amigo. Claro que eu não tenho amigo algum que
acredite nisto, e Hume tem uma explicação para esse facto. Devido ao “costume”
ou ao “hábito”, todos pensamos em termos indutivos. Contudo, este tipo de
pensamento não é justificado; resulta apenas de certas disposições psicológicas
que criaturas como nós possuem: não é, portanto, a razão que é o guia da vida,
mas sim o costume. […] Os animais também têm essas disposições; são guiados
pelo costume e esperam que as regularidades que experienciaram continuem.
Contudo, como observa Russell, a galinha a que o agricultor dá de comer todos
os dias pode ser degolada amanhã. A nossa posição é análoga à da galinha:
esperamos que o Sol nasça todas as manhãs tal como a galinha espera o seu
alimento, mas nenhum de nós tem qualquer justificação para as nossas crenças ou
comportamento. Uma resposta comum a esta posição cética é que sabemos que o Sol
irá nascer amanhã porque temos uma explicação científica para que tal aconteça,
descrevendo o movimento da Terra em relação ao Sol. Aqui, no entanto, podemos
ver todo o alcance do argumento de Hume. Chegámos à nossa narrativa através de
sucessivas observações astronómicas. A nossa explicação científica do nascer do
Sol é, portanto, indutiva, pelo que está igualmente sujeita ao argumento de
Hume. De acordo com Hume, o cientista não pode justificar a sua crença de que a
gravidade continuará a manter os corpos celestes nas órbitas que até agora
temos observado seguirem.»
Dan O’Brien, Introdução à Teoria do
Conhecimento
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