«A grande subversora do
pirronismo ou dos princípios excessivos do ceticismo é a ação, juntamente com
os afazeres da vida diária. Esses princípios podem florescer e triunfar nas
escolas, onde, de facto, é difícil refutá-los, se não até mesmo impossível.
[...] O cético, portanto, faria melhor em se limitar à sua esfera própria e
expor aquelas objeções filosóficas que derivam de investigações mais
aprofundadas. Aqui ele parece dispor de ampla matéria de triunfo, ao
corretamente insistir que toda a nossa evidência para qualquer questão de facto
situada para além do testemunho dos sentidos ou da memória deriva inteiramente
da relação de causa e efeito; que não temos outra ideia dessa relação que não a
de dois objetos que se apresentaram frequentemente conjugados um com o outro;
que não dispomos de qualquer argumento que nos possa convencer de que os
objetos que, na nossa experiência, se apresentaram frequentemente conjugados,
continuarão a aparecer conjugados do mesmo modo em outros casos; e que nada nos
conduz a essa inferência a não ser o hábito, um certo instinto da nossa
natureza, ao qual, de facto, é difícil resistir; mas que, como outros
instintos, pode ser falaz e enganador. Ao insistir nestes tópicos, o cético
mostra a sua força, ou melhor, sem dúvida, a sua e a nossa fraqueza; e parece,
pelos menos de momento, destruir toda e qualquer segurança e convicção.»
David Hume, Tratados I: Investigação sobre o
Entendimento Humano. Trad. de João Paulo Monteiro. Lisboa: INCM, 2002, p. 170
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