quinta-feira, 29 de março de 2012

Porque não treinamos os gatos?















Os donos dos gatos diriam que os gatos são demasiado espertos para fazerem habilidades estúpidas como um cão. Segundo Colin Tennant, um dos especialistas em gatos mais famosos da Grã-Bretanha, a verdadeira justificação assenta na história da evolução. Os cães eram inicialmente animais de carga, que aprendiam a assimilar pistas dos que os rodeavam, enquanto os gatos eram caçadores solitários que nunca precisaram de adquirir essa capacidade. Os gatos respondem ao som das latas de comida quando estas estão abertas mas poucos se dignarão a fazer algo mais.

Robert Matheus, Porque é que os gatos ronronam e as pessoas falam tanto?, ACADEMIA DO LIVRO,1ª edição: junho 2010, p. 158


Fotografia feita na Herdade da Mourisca, Setúbal, em 21-11-2011

David Hume - Fernando Savater

quarta-feira, 28 de março de 2012

As rosas





















Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.


Sophia de Mello Breyner Andresen
"Dia do Mar" (1º ed. Ática 1947, incluído no vol. I da "Obra Poética", ed. Caminho)

Fotografia feita em 14 de fevereiro de 2012- Casa, Santiago do Cacém

terça-feira, 27 de março de 2012

Dia Mundial do Teatro

David Hume - "Naturalista"

«Como no seu tempo, Hume tem sido sempre classificado como empirista, cético secularista, mas é antes um naturalista: o seu objetivo filosófico primário é mostrar que somos parte da ordem natural. Dedica-se ao objetivo socrático clássico do autoconhecimento, mas pensa que este pode ser alcançado através de uma compreensão científica da natureza humana que espelhe a ciência física newtoniana. Tal compreensão, desenvolvida no Treatise, revela que somos fundamentalmente criaturas de instinto e hábito cujas vidas mentais são dominadas pela paixão e não pela razão, cujas crenças são formadas por mecanismos de associação e costume e não por reflexão a priori, e cujas vidas morais são o produto do sentimento, formado por convenção. Que somos assim é um facto que temos de aceitar, e não podemos mudar nem explicar. Os sistemas racionalistas representam muitíssimo incorretamente as nossas naturezas, e sugerem que a alma humana é alheia ao mundo em que se encontra; o mesmo ocorre na religião cristã, que gera objetivos éticos que negam a vida e que estorvam a socialização necessária ao desenvolvimento da virtude moral.»

Dicionário de filosofia, Direção de Thomas Mautner, Direção da Edição Portuguesa – Desidério Murcho, Tradução de Victor Guerreiro, Sérgio Miranda e Desidério Murcho, Edições 70, p. 377

sexta-feira, 23 de março de 2012

As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões














As mulheres aspiram a casa para dentro dos pulmões
E muitas transformam-se em árvores cheias de ninhos - digo,
As mulheres - ainda que as casas apresentem os telhados inclinados
Ao peso dos pássaros que se abrigam.

É à janela dos filhos que as mulheres respiram
Sentadas nos degraus olhando para eles e muitas
Transformam-se em escadas

Muitas mulheres transformam-se em paisagens
Em árvores cheias de crianças trepando que se penduram
Nos ramos - no pescoço das mães - ainda que as árvores irradiem
Cheias de rebentos

As mulheres aspiram para dentro
E geram continuamente. Transformam-se em pomares.
Elas arrumam a casa
Elas põem a mesa
Ao redor do coração.


Daniel Faria
de Homens Que São Como Lugares Mal Situados

Quadro de Charles Hejnal.

Obrigada Marta, por teres lido o poema de uma forma tão delicada.
Obrigada a todos os alunos e professores da da Manuel da Fonseca, que estiveram presentes,

quinta-feira, 22 de março de 2012

As coisas que amamos




















As coisas que amamos
as pessoas que amamos
são eternas até certo ponto.
Duram o infinito variável
no limite de nosso poder
de respirar a eternidade
Pensá-las é pensar que não acabam nunca,
dar-lhes moldura de granito.
De outra maneira se tornam absoluta
numa outra (maior) realidade.
Começam a esmaecer quando nos cansamos,
e todos nos cansamos, por um outro itinerário,
de aspirar a resina do eterno.
Já não pretendemos que sejam imperecíveis.
Restituímos cada ser e coisa à condição precária
rebaixamos o amor ao estado de utilidade.
Do sonho eterno fica esse gozo acre
na boca ou na mente, sei lá, talvez no ar

Carlos Drummond de Andrade

A fotografia foi feita no dia 18 de março em Ribeira dos Moinhos, Sines

Violência Sobre Idosos

O abuso do idoso tem relação com mudanças observadas nos valores sociais e particularmente com a alteração do estatuto da pessoa idosa. Outrora, o idoso gozava de reconhecimento social, respeito e poder, e era a garantia de transmissão de conhecimentos e tradições, numa sociedade onde a experiência ligada à idade era considerada um valor. Nas últimas décadas, as alterações na estrutura social, no contexto familiar, nas atitudes e nos valores, estão provavelmente na génese do problema. Além destas causas, salienta-se ainda o aumento da esperança média de vida e avanços na tecnologia médica e farmacêutica que permitiram o prolongamento dos anos de vida em doentes com patologias crónicas.



Célia Afonso Gonçalves

Violência Sobre Idosos

Quase um quarto dos idosos do Alentejo inquiridos no âmbito de um estudo sobre a sua funcionalidade referiu ter sido vítima de violência doméstica, ao nível psicológico, no último ano, revelou hoje um especialista, em Évora.
"A violência psicológica atinge valores muito expressivos e é referida por 23,8 por cento dos idosos", adiantou à Agência Lusa Manuel Lopes, docente da Escola Superior de Enfermagem S. João de Deus, da Universidade de Évora.
Este é um dos "dados parcelares" de uma investigação em curso, divulgado no debate 'Um Olhar sobre a Violência Doméstica no Alentejo', promovido pela Rede de Intervenção Integrada do Distrito de Évora contra a Violência Doméstica (RIIDE).




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quarta-feira, 21 de março de 2012

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
















Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.

Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.

O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.

E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.

Luís de Camões



Fotografia feita no dia 18 de março em Ribeira de Moinhos, Sines

quinta-feira, 15 de março de 2012

Violência Doméstica

Violência Doméstica




















O que é ?
Tem medo do temperamento do seu namorado ou da sua namorada?
Tem medo da reacção dele(a) quando não têm a mesma opinião?
Ele(a) constantemente ignora os seus sentimentos?
Goza com as coisas que lhe diz?
Procura ridicularizá-lo(a) ou fazê-lo(a) sentir-se mal em frente dos seus amigos ou de outras pessoas?
Alguma vez ele(a) ameaçou agredi-lo(a)?
Alguma vez ele(a) lhe bateu, deu um pontapé, empurrou ou lhe atirou com algum objecto?
Não pode estar com os seus amigos e com a sua família porque ele(a) tem ciúmes?
Alguma vez foi forçado(a) a ter relações sexuais?
Tem medo de dizer "não" quando não quer ter relações sexuais?
É forçada(o) a justificar tudo o que faz?
Ele(a) está constantemente a ameaçar revelar o vosso relacionamento?
Já foi acusada(o) injustamente de estar envolvida ou ter relações sexuais com outras pessoas?
Sempre que quer sair tem que lhe pedir autorização?


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Darwin Aos Tiros...

DARWIN AOS TIROS E OSSOS NA CAIXA DO CORREIO

O inglês Charles Darwin (1809 - 1882) foi uma criança apaixonada pelo mundo natural. Adorava coleccionar espécimes e passear pelo campo e esse gosto foi cultivado nas duas Universidade onde estudou (Edimburgo e Cambridge), na companhia de professores cuja influência foi determinante no seu pensamento futuro, como Robert Grant (1793 - 1874) e John Henslow (1796 - 1861). Fruto das suas frequentes saídas de campo fez a sua primeira descoberta científica com apenas 18 anos: descobriu que os ovos de flustra (um invertebrado que forma uma espécie de tapete marinho) não eram ovos de flustra, mas sim larvas de flustra (porque nadavam e os ovos não nadam).

Durante os cinco anos em que viajou à volta do mundo a bordo do HMS Beagle o seu entusiasmo pela história natural fê-lo acumular diversas colecções que expedia regularmente para Inglaterra, para não afundar o Beagle com tanto lastro. Se o leitor se aborrece com publicidade na caixa do correio, já imaginou tentar encontrar a sua correspondência importante, notificações das finanças e contas da luz, no meio de aves, organismos marinhos, insectos, plantas, fósseis e até rochas? Foi o que aconteceu a John Henslow, professor e amigo de Darwin.


Retirado do blogue "De Rerum Natura"

Carlos Fiolhais na Manuel da Fonseca




















O professor Carlos Fiolhais vai estar na nossa escola no dia 23 para uma palestra sobre este livro. Decorrerá no Auditório Municipal das 14:30 às 16:00h.
Os meus alunos devem reler os textos fornecidos sobre "Histórias de Pseudociência".

terça-feira, 6 de março de 2012

A quem se interesse

A quem se interesse
por tecidos, peles
sistemas de ocultação

lembro Bartolomeu
santo, mártir, manequim

o que há séculos passeia
sobre os ombros
ou dependurada no braço
feita capa
a sua pele escorchada

adereços:
os pés e as mãos,
a murcha máscara
da cara.

Luiza Neto Jorge
poèmes
Par le Feu
A Lume
Édition Bilingue Français-Portugais
Le Passeur

domingo, 4 de março de 2012

Como a dúvida pode aumentar a crença

• Por vezes, quando duvidas de uma coisa tornas outra mais susceptível de crença. Por exemplo, se duvidas que estás a pé, acreditas mais facilmente que estás na cama. Se duvidas que as doenças são causadas por vírus e microrganismos, então torna-se para ti mais provável acreditar que são causadas por feitiços. (A ideia é que duvidar de uma coisa não te faz acreditar efectivamente numa outra, apenas estás mais perto de acreditar noutra coisa, que se torna mais plausível.)



• Para cada uma das crenças que se seguem encontra outra possibilidade que se tornaria mais plausível caso as submetas à dúvida.
• A terra é redonda.
• A vida evoluiu da matéria inorgânica.
• As outras pessoas têm mentes como a minha.

• Respostas possíveis: Se duvidas que a terra é redonda, podes achar mais plausível que a terra é plana. Se duvidas que a vida evoluiu da matéria inorgânica, podes achar mais susceptível de crença que a vida foi criada por Deus. Se duvidas que as outras pessoas têm mentes como a tua, podes achar mais plausível que as outras pessoas sejam robôs.
• Em primeiro lugar, este exercício é relevante para o argumento céptico simples. Presume que podes encontrar em relação a qualquer coisa em que acredites uma razão para duvidar. Daqui não se segue que encontrarás sempre razões para duvidar de tudo simultaneamente, porque as razões para duvidar de uma coisa podem tornar outra menos susceptível de dúvida.
• Mas há também uma conexão com o argumento céptico cartesiano. As possibilidades cépticas corroem um grande número de crenças habituais. Mas também aumentam a possibilidade de acreditar em algumas crenças. Se suspeitas que estás a dormir, então é mais provável acreditares estar na cama. Se suspeitas que és um cérebro numa cuba, então é mais provável acreditares que todos os teus pensamentos dependem de um órgão físico, o cérebro.
• A possibilidade céptica de Descartes, o génio maligno, não foi concebida com esta característica. Mas deste modo trata-se de uma possibilidade bastante vaga; quando descreves possibilidades cépticas mais concretas, tanto diminuis como aumentas a plausibilidade de algumas crenças habituais.

Adam Morton


sábado, 3 de março de 2012

Comentário sobre a palestra do professor Aires de Almeida

O problema filosófico do conhecimento é um tema bastante curioso e penso que suscita muito interesse na maioria dos alunos.
Apesar de já termos trabalhado a temática nas aulas de filosofia, consolidar a matéria é sempre importante e, a palestra do professor Aires Almeida assim o permitiu.
O início da “conversa” captou imediatamente a atenção do auditório; acontecimentos invulgares que aparentemente nada tinham a ver com a matéria e um toque de humor da parte do professor foram o suficiente para que todos ficássemos atentos.
A forma como o professor ligou estes acontecimentos à matéria propriamente dita, foi muito sensata e fez com que os alunos não “desligassem”.
O humor é algo que os jovens apreciam muito e o facto de o professor apresentar exemplos coerentes e divertidos proporcionou não só gargalhadas gerais mas ao mesmo tempo fez com que vários alunos saíssem do “Polivalente”” a dizer: “prestei realmente atenção do início ao fim”. A proximidade e aparente descontracção com que o professor falou connosco são mais um ponto positivo a apresentar; permitiu que os alunos não se sentissem tão envergonhados ao participar e tornou o ambiente muito mais confortável para todos.
Foi de facto uma hora e meia bastante agradável, pois consolidamos a matéria ouvindo novos exemplos e diferentes formas de explicar o mesmo assunto e, ao mesmo tempo divertimo-nos ao fazê-lo.

Marta Pereira, Nº16, 11ºA

quinta-feira, 1 de março de 2012

É a ciência cultura?

A cultura é humanidades. A ciência não é cultura, é apenas uma técnica. Ou, na melhor das hipóteses, uma especialidade. Quando alguém se quer cultivar lê poesia, romances mais ou menos intelectuais, vê filmes, ouve música. Mas esta atitude tem dois vícios. Em primeiro lugar, resta saber que humanidades estão aqui em presença. Na maioria dos casos duvido que estes humanistas saibam duas regras do latim ou grego clássico, as regras de poética, ou análise musical. Na maioria dos casos, o percurso pelas ditas humanidades é apenas passageiro, em que lugares comuns se sucedem uns aos outros (“códigos”, “linguagem”, “discurso”, “estruturas”, “valorações”, “representações”, etc.). Lugares comuns esses que em acréscimo têm o demérito de serem velhos quando se julgam frescos.


Em segundo lugar, reverso desta medalha é o de que a ciência despreza as humanidades. É pelo menos o que dizem os cientistas menores. Sempre que vejo alguém com formação científica dizer que “letras são tretas” lembro-me dos grandes cientistas, como Maxwell, Heisenberg, Schroedinger, Berthelot, para citar apenas alguns, que tinham um profundo amor pela arte, pela literatura, pela filosofia, pela música, ou por todos elas de uma só vez. Quando vejo um mestre do estilo que era um Poincaré ou um Pascal percebo que alguém que não sabe escrever é em geral fraco cientista. Ao desprezo folclórico dos não cientistas corresponde um desprezo igualmente étnico dos (maus) cientistas.


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