domingo, 13 de novembro de 2016

Scorpions - Wind Of Change

Mia Couto - Repensar o pensamento


O determinismo é a tese de que todos os acontecimentos estão causalmente determinados pelos acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza. Um acontecimento está causalmente determinado pelos acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza quando não poderia deixar de se dar sem violar as leis da natureza ou sem ter origem em acontecimentos anteriores diferentes. A posição que a Terra ocupa a cada momento, por exemplo, resulta inteiramente das leis da natureza e da posição que a Terra e os outros corpos celestes ocupavam anteriormente. O universo forma uma imensa cadeia causal na qual cada efeito está determinado pelas causas que o antecedem. 
Chama-se cadeia causal à sequência encadeada de causas e efeitos. Por exemplo, imaginemos que a Ana dá um chuto numa bola. Esta é a causa que faz a bola deslocar-se. A deslocação da bola é o efeito. Por sua vez, esta bola bate noutra bola. Agora, a deslocação da primeira bola é a causa da deslocação da segunda bola. É a esta sucessão encadeada de causas e efeitos que se chama «cadeia causal».
Se o universo é uma imensa cadeia causal, cada acontecimento é inteiramente determinado pelos acontecimentos anteriores. O que isto significa é que um certo acontecimento B está determinado a ocorrer desde que ocorram os acontecimentos A anteriores que são as suas causas. Explica-se uma ação referindo as crenças e os desejos do agente. Contudo, as crenças e desejos do agente são, em si, acontecimentos no mundo como quaisquer outros. Neste caso, são acontecimentos que ocorrem no seu cérebro. Ora, estes acontecimentos que ocorrem no seu cérebro são igualmente o resultado causal de acontecimentos anteriores. Logo, se as nossas ações resultam causalmente dos nossos desejos e crenças, e se estas resultam por sua vez de acontecimentos anteriores, as nossas ações resultam indirectamente desses acontecimentos anteriores. Mas isto parece significar que não somos livres. Por exemplo, quando a Ana dá um chuto numa bola, esta acção parece-lhe inteiramente livre. Contudo, ao explicarmos a ação da Ana, diremos que ela tinha uma crença e um desejo: tinha a crença de que chutar a bola iria contribuir para ganhar o jogo em que estava a participar, por exemplo, e tinha o desejo de ganhar o jogo. Mas tanto a sua crença como o seu desejo são apenas acontecimentos no seu cérebro; e estes são o resultado causal de acontecimentos anteriores. Assim, o chuto da Ana estava determinado indirectamente por esses acontecimentos. A Ana tem apenas a ilusão de que é livre, porque decidiu chutar a bola e conseguiu fazê-lo – ninguém a impediu. Mas o problema é que a própria decisão foi apenas o resultado de uma cadeia causal. E isto parece contrariar a sensação de liberdade que a Ana tem.
Condicionantes da ação
A ideia de que estamos determinados a agir como agimos em função dos acontecimentos anteriores contraria o que pensamos sobre nós mesmos. Por exemplo, imaginemos que o Mário nasceu e foi criado numa sociedade que considera que as mulheres não devem ter direitos iguais aos homens. É muito natural que o Mário tenha uma certa predisposição para aceitar essas ideias. Afinal, a personalidade das pessoas é influenciada pelo meio social em que vivem. Contudo, consideramos que o Mário pode perfeitamente rejeitar essas ideias, se quiser. Chama-se por vezes condicionantes histórico-culturais da ação aos factores históricos e culturais que influenciam a personalidade das pessoas, e portanto o modo como agem. E chama-se condicionantes físico-biológicas da ação aos factores físicos e biológicos que influenciam a personalidade das pessoas, e portanto o modo como agem. Por exemplo, a Ana pode ter uma certa constituição biológica que a predispõe a ser irritável, simpática ou estudiosa. A perspetiva de senso comum que temos da ação humana é que as condicionantes da ação influenciam, mas não determinam, a nossa acção. Retomando o exemplo anterior, o Mário pode ter sido influenciado pela sua sociedade para pensar o que pensa acerca das mulheres; mas não foi determinado a pensar desse modo – pensa desse modo porque quer.
(Arte de Pensar)

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Geoffrey West – Sustentabilidade e consciência política

O livre-arbítrio é a capacidade para decidir (arbitrar) em liberdade.


O problema do livre-arbítrio consiste em tentar compatibilizar o determinismo que encontramos na natureza com a perspectiva de senso comum que temos de nós mesmos. Poderemos ser realmente livres num universo determinista? Ou será que temos de aceitar que a liberdade é uma ilusão porque tudo está determinado? Poderemos, alternativamente, conceber que o universo não está afinal inteiramente determinado precisamente porque somos livres?
(in Arte de Pensar)

MANU SILVA | SABE COMO É ( BULLYING ) ♫

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Cupid - Digital Animation Showreel

Aquilo que é feito intencionalmente por alguém; um acontecimento que resulta directamente da VONTADE de um AGENTE. Uma pessoa pode causar um acontecimento sem que o tivesse previsto, desejado ou controlado (como quando chuta uma pedra involuntariamente e esta acerta num carro). Neste caso, não se trata de uma ação. Apenas aos acontecimentos causados por alguém de forma intencional, e que têm em vista obter algum resultado, se pode apropriadamente chamar "ações" (como atirar uma pedra a um cão para o afastar do meio da estrada). O movimento corporal não é necessário nem suficiente para assinalar a existência de uma ação: é vulgar alguém fazer a ação de se defender de um cão feroz permanecendo imóvel; e há movimentos quando espirramos sem que isto represente qualquer ação. APC

terça-feira, 24 de maio de 2016

The Solid Affair - Digital Animation Showcase

Hidden Costs Series: Light Pollution

Thomas Kuhn

Jorge Palma & João Gil | Senta-te aí ( ao vivo )

Jorge Palma | Frágil

Sérgio Godinho - É Terça-Feira

Sérgio Godinho - Cuidado com as Imitações

Ney Matogrosso - Balada do Louco

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Hume, impressões e ideias

Onde os céticos triunfam- David Hume

«A grande subversora do pirronismo ou dos princípios excessivos do ceticismo é a ação, juntamente com os afazeres da vida diária. Esses princípios podem florescer e triunfar nas escolas, onde, de facto, é difícil refutá-los, se não até mesmo impossível. [...] O cético, portanto, faria melhor em se limitar à sua esfera própria e expor aquelas objeções filosóficas que derivam de investigações mais aprofundadas. Aqui ele parece dispor de ampla matéria de triunfo, ao corretamente insistir que toda a nossa evidência para qualquer questão de facto situada para além do testemunho dos sentidos ou da memória deriva inteiramente da relação de causa e efeito; que não temos outra ideia dessa relação que não a de dois objetos que se apresentaram frequentemente conjugados um com o outro; que não dispomos de qualquer argumento que nos possa convencer de que os objetos que, na nossa experiência, se apresentaram frequentemente conjugados, continuarão a aparecer conjugados do mesmo modo em outros casos; e que nada nos conduz a essa inferência a não ser o hábito, um certo instinto da nossa natureza, ao qual, de facto, é difícil resistir; mas que, como outros instintos, pode ser falaz e enganador. Ao insistir nestes tópicos, o cético mostra a sua força, ou melhor, sem dúvida, a sua e a nossa fraqueza; e parece, pelos menos de momento, destruir toda e qualquer segurança e convicção.»


David Hume, Tratados I: Investigação sobre o Entendimento Humano. Trad. de João Paulo Monteiro. Lisboa: INCM, 2002, p. 170

Não temos justificação para acreditar que o Sol irá nascer amanhã

«É importante que estejamos cientes da natureza radical da tese de Hume. Ele argumenta que todo o raciocínio indutivo é inválido: não temos razões a priori ou empíricas para aceitar crenças baseadas em inferências indutivas. Não temos justificação para acreditar que o sol irá nascer amanhã. O ponto crucial é este: se eu afirmar que o sol vai nascer amanhã e o meu amigo afirmar que ele se vai transformar num ovo estrelado gigante, a minha crença não é, de acordo com Hume, mais justificada do que a do meu amigo. Claro que eu não tenho amigo algum que acredite nisto, e Hume tem uma explicação para esse facto. Devido ao “costume” ou ao “hábito”, todos pensamos em termos indutivos. Contudo, este tipo de pensamento não é justificado; resulta apenas de certas disposições psicológicas que criaturas como nós possuem: não é, portanto, a razão que é o guia da vida, mas sim o costume. […] Os animais também têm essas disposições; são guiados pelo costume e esperam que as regularidades que experienciaram continuem. Contudo, como observa Russell, a galinha a que o agricultor dá de comer todos os dias pode ser degolada amanhã. A nossa posição é análoga à da galinha: esperamos que o Sol nasça todas as manhãs tal como a galinha espera o seu alimento, mas nenhum de nós tem qualquer justificação para as nossas crenças ou comportamento. Uma resposta comum a esta posição cética é que sabemos que o Sol irá nascer amanhã porque temos uma explicação científica para que tal aconteça, descrevendo o movimento da Terra em relação ao Sol. Aqui, no entanto, podemos ver todo o alcance do argumento de Hume. Chegámos à nossa narrativa através de sucessivas observações astronómicas. A nossa explicação científica do nascer do Sol é, portanto, indutiva, pelo que está igualmente sujeita ao argumento de Hume. De acordo com Hume, o cientista não pode justificar a sua crença de que a gravidade continuará a manter os corpos celestes nas órbitas que até agora temos observado seguirem.»

 Dan O’Brien, Introdução à Teoria do Conhecimento

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Direito & Literatura - A Arte da Retórica (bloco 1)

Retórica e Dialética em Platão

O que Aristóteles e Joshua Bell nos podem ensinar acerca da persuasão – ...

Conferência: Retórica e Objetividade

Symphony No. 7, Movement 2 (Karajan) - Ludwig van Beethoven [HD]

Zambujeira do Mar - Uma visão sobre as rochas e o litoral

No Jardim da Filosofia - Alexandre Meyer Luz sobre a definição de conhec...

David Bowie - Lazarus