(…) A experiência de votar pela primeira vez não fica muito atrás da de registar um nascimento, uma morte ou um casamento e é de longe mais profunda do que a maior parte dos outros deveres cívicos, é um rito de passagem que o lança de forma irrevogável nesse novo território da vida adulta. Apesar de beber, fazer sexo e conduzir (não de forma simultânea) serem todos capazes de nos conferir maturidade, não há nada verdadeiramente igual ao ato de votar para nos fazer sentir que o mundo exterior já nos leva a sério. A diferença entre esta atividade e as restantes é que essas são sobretudo hedonistas: em teoria podemos beber e fazer sexo de forma responsável, mas, na prática, tais atividades pertencem ao campo dos prazeres pessoais. Mais ainda, são subjetivas, enquanto o ato de votar nos transfere para o mundo objetivo, coloca-nos como parte do demos ou comunidade de cidadãos e lembra-nos, por isso, a responsabilidade que temos para com os outros.
Robert Rowland Smith, “Uma Viagem Com Platão”, lua de papel, 2011, Tradução de Francisco J. Azevedo Gonçalves, p. 102
Robert Rowland Smith, “Uma Viagem Com Platão”, lua de papel, 2011, Tradução de Francisco J. Azevedo Gonçalves, p. 102