segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

O Homem é um caminhante

Qual é coisa qual é ela, que de manhã anda em quatro patas, a meio do dia anda em duas e à noite em três? Se não souberes, mato-te; se souberes, mato-me.
Era este o enigma da Esfinge, o monstro mítico que, empoleirado como um louco nos limites da cidade de Tebas, na Grécia antiga, atormentava os viajantes com aquela aposta exorbitante. Antes de o enigma ser solucionado, muitos caíram na armadilha do monstro, metade homem, metade leão; e quando foi resolvido, quem conseguiu o feito foi, nada mais nada menos que Édipo. A sua resposta foi, é claro, o Homem (…).
Por sobre a camada de horrores, o jogo cruel da Esfinge alude à profunda ligação entre o Homem e o caminhar. No enigma, o “Homem” – e aqui vamos ler igualmente “mulher” – é definido pela sua capacidade de se mover sobre os membros inferiores. Enquanto a Esfinge era quadrúpede (era essa a razão da sua inveja?) o Homem é bípede e, (…), isso acarreta vantagens tanto teológicas como evolucionárias. Seja lá o que for para lá disso, o Homem é um caminhante, um passeante, um peão e, por isso, quando em bebés, nos erguemos apoiados nas ancas, para vacilarmos nas frágeis extremidades, com uma mão no sofá, estamos a fazer mais do que tentar chegar às bolachas no prato da mãe - estamos a juntar-nos à espécie no seu todo.

Robert Rowland Smith, “Uma Viagem Com Platão”, lua de papel, 2011, Tradução de Francisco J. Azevedo Gonçalves, p. 23

Imagem retirada daqui

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