sábado, 26 de maio de 2012

Amigo


Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!

«Amigo» é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

Alexandre O'Neill, in 'No Reino da Dinamarca'

Teste de Turing

Inteligência Artificial

Clonagem Terapêutica

terça-feira, 8 de maio de 2012

Decifrar o cancro da mama

















Todos nós conhecemos casos. Segundo a Liga Portuguesa Contra o Cancro, são anualmente detectados em Portugal cerca de 4500 novos casos de cancro da mama, que dão lugar à morte de cerca de 1500 mulheres por ano. O cancro, a quem já alguém chamou “o imperador de todos os males” (é o título de um livro, distinguido com o Prémio Pulitzer de 2011, da autoria do oncologista Siddartha Mukherjee, cuja tradução portuguesa saiu há pouco na Bertrand), é muito traiçoeiro, mas, se detectado a tempo, não tem de ser fatal. Sabemos hoje que o crescimento anormal de células tem origem na acumulação de modificações genéticas e cada vez compreendemos melhor os mecanismos de proliferação, conhecimento que nos permite melhores diagnótico e tratamento. Modernas técnicas de sequenciação do genoma têm permitido caracterizar os vários tipos da doença, proporcionando tratamentos personalizados.

Os biólogos portugueses Carlos Caldas, a trabalhar na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, e Samuel Aparício, a trabalhar na Universidade de British Columbia, no Canadá, acabam de dar um enorme passo em frente no mapeamento do cancro da mama e, portanto, no seu combate. No quadro de um projecto que reuniu equipas dos dois continentes examinaram os cromossomas de células tumorais de cerca de duas mil mulheres, com acompanhamento clínico ao longo de vários anos. É o maior estudo genético de amostras de cancro alguma vez realizado. Os resultados, que acabam de ser publicados na revista Nature, a revista científica de maior impacto no mundo, embora concordando com outros estudos similares que indicam uma grande variedade de formas de cancro, não deixam de ser surpreendentes: afinal não há apenas quatro tipos de cancro da mama, conforme se supunha, mas dez. Nos genes podemos não apenas ver padrões, mas também encontrar histórias sobre o modo como esses padrões se formaram. É uma evolução rápida que acontece quando algo começa a correr mal na divisão celular, por vezes devido a algum pequeno defeito inicial. E essa evolução acontece de dez modos principais. Na maior parte dos casos, o pior pode, felizmente, ser evitado.

A decifração do genoma humano está a permitir uma revolução na medicina. E, embora lá fora, há portugueses na linha da frente.

Carlos Fiolhais in De Rerum Natura

A História da Ciência

A História da Ciência