segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Gangnam Style

Experiência Mental

Uma situação imaginária., frequentemente rebuscada, cujo fim é esclarecer uma questão particular.
Por exemplo, para dar relevo ao que valorizamos nas nossas vidas, o filósofo Robert Nozick concebeu a seguinte experiência mental. Imagine que é possível ligar-se a uma máquina de experiências, um tipo de máquina de realidade virtual que lhe dá a ilusão de viver efetivamente a sua vida, mas com o pormenor extra de que tudo o que faz ou lhe acontece é inevitavelmente aprazível. Seja o que for que lhe agrade na vida real pode ser simulado na sua forma mais aprazível na máquina de experiências. Uma vez ligado à máquina, acreditará que todos estes agradáveis acontecimentos ocorrem realmente. Ligar-se-ia de livre vontade a tal máquina para o resto da sua vida? Se, como na maioria dos casos, a sua resposta for «não», isto sugere que valoriza algumas coisas mais do que apenas experiências aprazíveis ilimitadas, embora possa não se ter apercebido disto até ter feito a experiência mental.
A experiência mental da máquina de experiências é obviamente rebuscada. É muito improvável que tal máquina venha a existir no decurso das nossas vidas. Contudo, isso não importa. O propósito da experiência é captar a nossa atitude fundamental para com o prazer e é eficaz em tornar claras as nossas intuições sobre o assunto. Consequentemente, rejeitá-la simplesmente por ser rebuscada é não compreender o seu propósito. A questão real não é a de saber se nos ligaríamos ou não de livre vontade a uma máquina das experiências, mas a de valorizarmos realmente o prazer acima de todas as outras coisas na vida ou não. A experiência mental dá-nos um modo de testar as nossas intuições nessa matéria.

Nigel Warburton, Pensar de A a Z, tradução de Vítor Guerreiro, Editorial Bizâncio, Lisboa, 2012, pp. 124-125

Fotografia: Robert Nozick

sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Matrix

O filme Matrix encena, de forma vívida, um dos mais discutidos problemas filosóficos. O problema em causa é de tal modo central que afeta muitas áreas da filosofia, as mais óbvias das quais são a teoria do conhecimento e a metafísica, mas também a filosofia da linguagem e da mente.
Neo, o protagonista do filme, descobre que o mundo é completamente diferente do que pensava. Os seres humanos não vivem numa grande metrópole tipicamente americana, conduzindo automóveis e trabalhando em grandes edifícios, vivendo em pequenos apartamentos e divertindo-se em festas. Na realidade, vivem em pequenos casulos semelhantes a úteros, onde vegetam como fetos. Os seus cérebros estão ligados a poderosos computadores que produzem neles todas as sensações que uma vida normal provocaria: cheiram, veem e ouvem coisas, falam e interagem com os outros… ou melhor, têm exatamente as mesmas sensações que teriam se fizessem todas essas coisas – sem as fazerem de facto. É como se vivessem num sonho permanente.
A ideia de que a realidade é radicalmente diferente do que pensamos tem uma longa tradição no pensamento humano. Na República, Platão ilustra-a com a chamada «alegoria da caverna»: os seres humanos são como escravos que vivem numa caverna, tomando vagas sombras projetadas nas suas paredes como se fossem realidades últimas – mas de facto são apenas sombras do que é verdadeiramente real, sombras provocadas pela intensidade do Sol, do qual os escravos, por nunca terem saído da caverna, não têm conhecimento.

Desidério Murcho, PENSAR OUTRA VEZ, FILOSOFIA, VALOR E VERDADE, edições quasi, p.15

sábado, 20 de outubro de 2012

Pártenon


O primeiro templo que se construiu, entre os anos 447 e 432 a.C., foi também o templo maior. Erigiu-se em honra de Atena Parthénos (donde procede o termo «Pártenon»). Péricles encomendou a direção dos trabalhos e a realização das estátuas ao grande escultor Fídias.
O arquiteto Ictínio e o seu ajudante Calícrates construíram o templo segundo os cânones da ordem dórica, embora o edifício tenha proporções mais grandiosa que os outros templos deste estilo.
A construção completamente realizada em mármore branco, apresenta dezassete colunas nos lados e oito nas duas partes frontais e eleva-se sobre uma base de três degraus (crepidoma). No seu interior, a cela estava rodeada por uma colunata de ordem dórica em três dos seus lados, com colunas acrescentadas em dois deles.
Ao fundo deste recinto erigia-se com solenidade a estátua da deusa, que é uma das mais bonitas obras de Fídias. A sensação de harmonia produzida pela construção deve-se ao facto de as proporções entre as suas diferentes partes serem baseadas numa relação matemática. Também é admirável a beleza das suas colunas.

Acrópole de Atenas

A Acrópole ou «cidade alta» era o símbolo das cidades gregas. Em Atenas, a Acrópole está situada no cume de uma colina de rocha de 50m de altura. Antes que construíssem os monumentos que a tornaram famosa, era uma cidadela micénica, em que o palácio real estava rodeado de muralhas ciclópicas.
Na polis grega o palácio do rei foi substituído pelo templo dedicado à deusa protetora Atena, transformando-se a Acrópole numa zona sagrada que albergava os edifícios dedicados ao culto no início do século V a.C., a Grécia foi invadida pelos Persas, que tomaram Atenas pelas armas e destruíram a Acrópole.
Na Batalha de Salamina (480 a. C.) a Grécia saiu vencedora das guerras persas e o grande estadista Péricles dedicou os seus anos de governo à reconstrução da Acrópole, tarefa que foi finalizada entre 447 e 400 a.C. o projeto foi encomendado aos melhores arquitetos e escultores da época. Eles realizaram as obras-primas que hoje continuamos a admirar apesar do desgaste sofrido graças ao tempo e à ação humana.

domingo, 14 de outubro de 2012

O Minotauro




















Na cultura mediterrânica, o antiquíssimo mito do Minotauro, com o seu componente animal e feroz, precedeu a mitologia grega.
Metade homem e metade animal, o monstro é uma figura carregada de símbolos e significados. Representa as forças instintivas e incontroladas que estão no inconsciente do homem e que, quando afloram, têm muitas vezes efeitos devastadores.

Quadro: Minotauro, Pablo Picasso. 1936. Guache, 50 x 65 cm (Museu Picasso. Paris)

Electra, um solo de Olga Roriz

sábado, 13 de outubro de 2012

O legado de Sócrates

Sócrates não foi «o primeiro filósofo» - tradicionalmente, esse título é reservado a Tales, que viveu um século antes. (Porquê Tales? Porque Aristóteles o listou em primeiro lugar.) Ainda assim, os historiadores costumam designar Tales e os outros filósofos anteriores a Sócrates por «pré-socráticos», sugerindo assim que eles pertencem a uma espécie de pré-história filosófica e que Sócrates assinala o verdadeiro começo.
Aquilo que colocou Sócrates em destaque foi o seu método, e não tanto as suas doutrinas. Sócrates baseava-se na argumentação, insistindo que só se descobre a verdade pelo uso da razão. O seu legado reside sobretudo na sua convicção inabalável de que mesmo as questões mais abstratas admitem uma análise racional. O que é a justiça? Será que a alma é imortal? Poderá alguma vez ser certo maltratar alguém? Será possível saber o que é certo fazer e, ainda assim, proceder de outro modo? Sócrates pensava que estes problemas não eram meras questões de opinião. Existem respostas verdadeiras para eles, que podemos descobrir se pensarmos de uma forma suficientemente profunda. Era também isto que incomodava os acusadores de Sócrates, os quais, segundo o relato de Platão, desconfiavam da razão e preferiam basear-se na opinião popular, no costume e na autoridade religiosa.
Sócrates acreditava que alguns argumentos eram tão fortes que o compeliam a permanecer em Atenas e a aceitar a morte. Poderá isto ser verdade? Que argumentos poderiam ser assim tão poderosos? A questão essencial, disse a Críton, era a de saber se tinha a obrigação de obedecer às leis de Atenas. As leis tinham-lhe feito uma exigência. Teria de lhes obedecer? A sua discussão foi a primeira investigação filosófica sobre a natureza da obrigação política.

James Rachels, PROBLEMAS DA FILOSOFIA, tradução de Pedro Galvão, Gradiva, Lisboa, 2009, pp.17-18

Filosofia

Em filosofia discutem-se ideias insusceptíveis de tratamento experimental ou exclusivamente formal. Insiste-se em pensar cuidadosamente e de forma tão sistemática quanto possível quando nem o laboratório nem a demonstração matemática nos dão respostas. Procura-se avaliar imparcialmente ideias opostas, usando da melhor maneira possível as nossas capacidades racionais para pesar as coisas. Corretamente entendida, a filosofia faz-nos mais humanos porque nos faz pensar quando o pensamento é difícil, quando a solução não é óbvia, quando não há métodos seguros que garantam resultados – quando a tentação de desistir e parar de pensar é grande.

Desidério Murcho, PENSAR OUTRA VEZ, FILOSOFIA,VALOR E VERDADE, Edições Quasi, p. 11

quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Russell e a Filosofia

«Bertrand Russell foi um dos maiores filósofos do séc. XX e um dos fundadores da filosofia analítica. (…) Russell ganhou o prémio Nobel da Literatura em 1950, e sempre foi uma figura pública, intervindo em várias frentes como humanista e pacifista, pelo que era relativamente conhecido mesmo no Portugal marcelista. (…)
A independência intelectual, o espírito crítico, o poder de reflexão, o domínio da argumentação – os frutos e as armas da filosofia – não foram para Russell meras palavras sem conteúdo, mas antes princípios que orientaram a sua vida pública. Não é fácil entre nós conceber que a filosofia possa ser responsável pela independência de espírito necessária para colocar a felicidade e o bem-estar dos seres humanos acima dos cegos ditames do preconceito. Mas isto é o que acontece quando em filosofia se aprende a discutir ideias e a pensar autonomamente, em vez de nos limitarmos a associar palavras e a citar frases de filósofos mortos. A filosofia é uma atividade crítica, criativa e viva e a intervenção de Russell na vida pública é um dos exemplos do poder da reflexão para ultrapassar os preconceitos do nosso tempo.»

Desidério Murcho, PENSAR OUTRA VEZ, FILOSOFIA,VALOR E VERDADE, Edições Quasi, pp. 161-162